CAN: A incrível história de Haller deu título à Costa do Marfim e acabou sonho de Peseiro (1-2)
Recorde as principais incidências
Não é fácil chegar a uma final. É preciso passar por adversidades e por adversários, claro. Nigéria e Costa do Marfim, com estilos diferentes, passaram por provas de sofrimento para participar no jogo que todos queriam jogar, o da final da CAN.
A história da Costa do Marfim é incrível. A jogar em casa, a equipa costa-marfinense foi a última a conseguir o apuramento para a zona a eliminar. A espera foi tão longa que, imagine-se, o selecionador foi demitido e Emerse Fae acabou promovido de treinador adjunto a treinador principal. Depois, um conto de fadas levou a equipa da casa à final, com Drogba a vibrar a cada momento nas bancadas.
A história da Nigéria não é tão dramática, mas a de José Peseiro na CAN podia nem sequer ter começado. O treinador português foi muito contestado depois de alguns resultados negativos e o presidente da Federação Nigeriana chegou mesmo a tentar a mudança na equipa técnica. Uma questão de fundos fez com que Peseiro baixasse o salário, mas continuasse no cargo para tentar devolver o título africano à seleção da Nigéria, que fugia desde 2013.
O novo Peseiro
No meio de tudo isto, os jogadores mostraram confiança total nos seus treinadores e aceitaram os estilos de jogos impostos por Peseiro e Fae, respetivamente.
Depois de vários jogos que correram mal, Peseiro mudou de estratégia, colocou a Nigéria a jogar com linha de cinco e entregou aos talentosos avançados, um deles, Osimhen, foi mesmo o melhor jogador africano do ano, uma missão de sacrifício que, à partida, podia ser difícil de aceitar, mas que todos acolheram sem hesitar.
Os resultados na fase de grupos, onde a Nigéria não perdeu, e as vitórias frente a Camarões e Angola foram um sinal claro para continuar.
Se muitos se recordam do Sporting de Peseiro, entretido e virado para o ataque, então não irão acreditar que este é o selecionador da Nigéria, mas a verdade é que a estratégia funcionou sem grandes calafrios, com exceção para a passagem nos penáltis na meia-final.
Foi com essa mentalidade, a dar primazia ao momento defensivo para depois tentar o golo em contra-ataque (Osimhen e Lookman são letais nesse aspeto), que a Nigéria chegou à final e à vantagem no marcador.
Troost-Ekong (38') fez jus à alcunha de Super Águias e voou mais alto do que a concorrência para fazer o 1-0 numa primeira parte que até então estava a ser dominada pela Costa do Marfim, que já havia desperdiçado duas grandes ocasiões por Gradel e Adingra.
O velho Peseiro
Ao longo da sua passagem por Portugal, apesar de ter vencido duas Taças da Liga e uma Taça de Portugal, Peseiro também ficou conhecido pela forma como perdeu finais.
O técnico tinha o desejo de ser o primeiro treinador português a vencer a CAN, depois de Carlos Queiroz ter ficado perto na edição passada, mas na Costa do Marfim havia uma força divina a puxar pela equipa (e havia Drogba, também havia Drogba!)
Se a primeira parte teve praticamente apenas um sentido, no segundo tempo a Nigéria baixou demasiado as linhas. Peseiro esperou que a organização defensiva e alguma dose de sorte fossem suficientes.
A sorte ainda esteve durante alguns minutos com o treinador português, já a organização defensiva nem por isso. Kessie, Gradel, Haller, os três rondaram o golo do empate, mas quis a ironia que também fosse um canto a transformar o resultado no 1-1. O posicionamento de Zaidu deixou a Nigéria em xeque e Kessie aproveitou para fazer o golo do empate.
Batalhador, Osimhen tentou carregar a equipa num dia pouco inspirado de Lookman, mas nem o melhor jogador africano foi capaz de contrariar os astros.
Do lado de todos os costa-marfinenses nesta competição, uma força divina chamada Sébastien Haller, que já superou um cancro testicular, acabou com o sonho de Peseiro e animou as ruas da Costa do Marfim para os próximos dias. Nove anos depois, a seleção costa-marfinense vence a terceira CAN da sua história, a primeira no tempo regulamentar.
Uma vez mais, a sorte não quis nada com Peseiro.