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CAN: Com lágrimas e tragédia, Kaba Diawara faz história com a Guiné

André Guerra c/AFP
Diawara na quarta-feira em Abidjan
Diawara na quarta-feira em AbidjanFRANCK FIFE/AFP
A Taça das Nações Africanas (CAN) está longe de terminar, mas já foi histórica para a Guiné, que venceu pela primeira vez um jogo a eliminar, um feito que levou o treinador Kaba Diawara às lágrimas.

"Para mim e para a minha equipa, é verdadeiramente excecional. Vai para além do futebol", disse o antigo avançado do Arsenal à AFP, numa entrevista no hotel da equipa em Abidjan, antes dos quartos de final de sexta-feira contra a República Democrática do Congo.

A equipa chegou a esta fase da competição graças a um golo de Mohamed Bayo no último minuto, que deu à Guiné uma vitória por 1-0 sobre a Guiné Equatorial.

"As pessoas podem perguntar porque é choramos quando estamos apenas nos oitavos de final, mas foi realmente um momento da verdade para nós. Não consegui conter as lágrimas e a minha equipa estava no mesmo estado de espírito. Chorámos como meninos", apontou.

A Guiné foi finalista em 1976, mas naquela época não havia fase a eliminar e os quatro finalistas jogavam uma partida a duas mãos para decidir o vencedor. Os guineenses passaram das fase de grupos em seis edições da CAN neste século, mas nunca além disso. Inclusive em 2006, quando o próprio Diawara marcou na derrota por 3-2 com o Senegal.

Desta vez, no entanto, há uma série de fatores que levam os Syli National destacarem-se. Em primeiro lugar, esta CAN decorre na Costa do Marfim, que faz fronteira com a Guiné, daí que a equipa de Diawara tenha sido encorajada por uma grande multidão contra a Guiné Equatorial.

"Na Costa do Marfim, estamos praticamente a jogar em casa. Há uma grande comunidade guineense aqui. Até tenho um irmão mais velho que nasceu aqui, por isso, na Costa do Marfim, é como estarmos na Guiné. Falamos a mesma língua, temos a mesma religião", explicou o seleccionador de 48 anos, com a cabeça a pingar de suor no calor do meio-dia, num terraço à sombra com vista para a orla marítima de Abidjan.

"Somos responsáveis"

A vitória nos oitavos de final provocou celebrações frenéticas no estádio, mas Diawara sentiu-se obrigado a apelar à calma entre os adeptos do país. Seis pessoas morreram durante os festejos na capital Conacri, depois de a equipa ter derrotado a Gâmbia por 1-0 na fase de grupos.

A Guiné está também a recuperar de outra tragédia em dezembro, quando 24 pessoas morreram e centenas ficaram feridas numa enorme explosão e incêndio num depósito de combustível em Conacri. "Nós somos responsáveis", disse Diawara sobre o último desastre.

"É por causa da nossa vitória. As pessoas ficam tão contentes quando a equipa ganha que as celebrações se tornam um pouco estúpidas. É claro que deve haver comemorações. Claro que houve o desastre (em dezembro), mas é exatamente isso, queremos evitar ter que chorar mais morte", apontou.

Guirassy, um jogador "especial"

Diawara, que nasceu em França e jogou no Bordéus, Paris Saint-Germain, Marselha e Nice, assumiu o comando da equipa antes da última CAN, substituindo o francês Didier Six. Rapidamente se propôs a explorar o grande número de jogadores de origem guineense nascidos na Europa.

A equipa, que já contava com o médio Naby Keita, ex-jogador do Liverpool, foi reforçada com outros elementos como o defesa Mouctar Diakhaby e o avançado Serhou Guirassy, ambos antigos internacionais pelas camadas jovens de França. Guirassy só foi titular uma vez no torneio devido a lesão, mas o avançado de 27 anos é a maior estrela da equipa, com 17 golos em 14 jogos na Bundesliga pelo Estugarda esta época. 

"Não gosto de destacar nenhum jogador em particular. Prefiro falar do grupo, da equipa, até da família. Mas é verdade que não se pode marcar 17 golos na Bundesliga sem ser um jogador especial", afirmou o treinador.

"Mas, para além disso, África tem as suas próprias características. É completamente diferente da Europa. Há o calor, o clima em geral, os campos. A CAN é uma competição extraordinária, de altíssimo nível. Por isso, é preciso adaptar-se. Ele lesionou-se, mas foi recuperando aos poucos e agora está 100%", garantiu.

Resta saber se conseguirá tirar a titularidade a Bayo contra a República Democrática do Congo. A Guiné, que terminou em terceiro lugar no seu grupo, atrás de Senegal e Camarões, espera agora fazer história.

"Quando entramos numa competição, é com o objetivo de ir até ao fim, mesmo que nunca tenhamos tido a oportunidade de chegar às meias-finais. Desta vez, vamos que o caminho está aberto para nós", afiançou.