CAN: Kamory Doumbia, o maestro do Mali
"O poker foi o assunto da cidade, mas não fiquei surpreendido, pois é um demónio à frente da baliza", disse à AFP Vincent Dufour, que o recrutou aos 11 anos na Academia Jean-Marc Guillou (JMG), em Bamako.
No entanto, Doumbia não parecia um goleador na Ligue 1. Os quatro golos que marcou em 26 minutos na vitória por 4-0 sobre o Lorient, a 20 de dezembro, pouco antes de partir para o estágio de preparação para a Taça das Nações Africanas, representaram quase metade do seu total de golos na equipa profissional. Antes disso, ele havia marcado apenas cinco em 50 partidas entre o Reims e o Brest .
Embora ainda não tenha marcado na Costa do Marfim, já fez duas assistências para Lassine Sinayoko contra a África do Sul (2-0) e a Tunísia (1-1).
"Uma questão de confiança"
"Normalmente, não são precisas três oportunidades para que ele faça um golo", acrescenta o diretor-geral das JMG Academies,"é mais uma questão de confiança. No Mali é um patrão ofensivo, não tem medo de agarrar o jogo com unhas e dentes, talvez precise de alguma responsabilidade?"
"A confiança está a começar a surgir e penso que com o tempo vamos ver grandes coisas", disse o frágil (1,70m) e tímido Kamory Doumbia na noite do seu feito: "O treinador (do Mali, Eric Chelle) enviou-me uma mensagem de felicitações e isso deixa-me feliz".
O seu treinador no Brest, Eric Roy, estava bem ciente dessa dicotomia. Em novembro, "ele marcou dois golos em dois jogos" com as Águias, na qualficação para o Mundial-2026, contra o Chade (3-1) e a República Centro Africano (1-1), recorda o treinador do Brest.
"Então, quando voltamos, antes do jogo contra o Montpellier, dissemos-lhe: agora precisas começar a marcar para nós. E ele já tinha feito isso no jogo contra o Montpellier (vitória por 3-1). Então, basta perguntar ao Kamo", brincou Roy: "Cumpriu o seu papel de número dez, um pouco à moda antiga, e superou as minhas expectativas na partida entre Brest e Lorient. Essa é a posição dele no Mali."
"Um número 10"
"Para mim, ele é um número 10", confirmou Eric Chelle no Ouest France de 2 de dezembro, "um verdadeiro número 10, como não se vê mais. Ele movimenta-se bem entre as linhas, faz a equipa jogar, mas também é capaz de fazer o último passe ou finalizar".
Na primeira partida contra a Zâmbia (vitória por 1-0), em 23 de setembro de 2022, fez a assistência decisiva para El-Bilal Touré, que não pode jogar a CAN.
"Começamos a vê-lo cada vez mais na área adversária e onde a bola cai", observa o técnico do Mali: "Ele decidiu projetar-se. Percebeu que, embora o futebol seja um desporto coletivo, se quisermos estar ao mais alto nível, temos de ter estatísticas.
Doumbia é"muito bem treinado no JMG", diz Roy: "Jean-Marc Guillou é um verdadeiro técnico, com uma ideia de futebol baseada na técnica e no movimento. É isso que encontramos nos treinos de Kamory, a facilidade com a bola, a sua capacidade de desestabilizar com os pés e também a intuição, o sentido do jogo, que o faz estar no momento certo, no lugar certo, bem posicionado, sempre a projetar-se para a área".
"Ele é um verdadeiro goleador número 10", conclui Dufour: "Esperamos que prove o seu valor, porque ele tem o que é preciso para jogar no mais alto nível."