Entrevista Flashscore a Luís Gonçalves: "Foi uma CAN apaixonante e surpreendente"

"Muito bom para o futebol africano"

- O Luís já foi selecionador de Moçambique e no último ano esteve a trabalhar no Interclube, de Angola. Que balanço faz da CAN?

- Foi uma CAN apaixonante e surpreendente. Assistiu-se a grandes jogos de futebol e muito competitivos, com qualidade e emoção, para o bem do futebol. Nem todos os favoritos à partida foram superiores e assistimos a grandes desempenhos a nível individual e coletivo. A dimensão tática está a assumir força no jogo africano, sem perder a criatividade e a originalidade. O futebol africano a nível de seleções está a evoluir muito, não só pela presença de jogadores africanos que jogam em outros continenentes, nomeadamente na Europa, mas também pelos selecionadores estrangeiros que trazem organização às equipas. Também se verifica uma evolução dos treinadores africanos e em alguns países já se nota melhoria nas federações. A questao da imprevisibilidade espelha-se na forma como a Costa do Marfim chega à final e vence. Em termos globais, foi uma competição positiva e interessante de seguir. Foi muito bom para o futebol africano.

- A Costa do Marfim é uma justa vencedora?

- É difícil falar de justiça ou injustiça. Quem marca mais golos e vence mais jogos vence, se formos por aí foi um justo vencedor. Teve um percurso irregular, em que a fase de grupos foi o que foi, e em alguns momentos pareceu-me ter tido algum benefício das arbitragens. De qualquer das formas não podemos retirar mérito ao esforço de jogadores e treinadores.

- Que análise faz às prestações de Nigéria, de José Peseiro, e Egito, de Rui Vitória?

- A Nigéria do nosso José Peseiro cresceu ao longo da prova e esteve bem. Ganhou confiança, em função dos ajustes que o José Peseiro foi fazendo e fez uma grande prova. Restituiu confiança e crença aos nigerianos e merecia ter vencido este CAN. Grande trabaho do Peseiro e da sua equipa técnica. Mas no futebol os resultados ditam as leis.

- O Egito foi uma desilusão. Não conseguiu apresentar superioridade inequívoca em nenhum jogo, com três empates na fase de grupos. Pareceu-me haver alguma sobranceria por parte de alguns jogadores perante os seus adversários. Em alguns momentos a sorte também não acompanhou a seleçao egípcia. O Rui Vitória foi vítima dos resultados.

Análise aos países lusófonos

- Convidamo-lo, agora, a analisar a prestação dos representantes lusófonos na competição. Comecemos por Angola.

- Prestação fantástica. Superou todas as expectativas e fez com que todos os angolanos sonhassem. A mim não me surpreendeu porque conheço bem o trabalho excecional do Pedro. Também conheço as dificuldades que passam, às vezes até para treinar, para além de alguma oposição interna. Acho que a prestação foi fantástica. O Gelson Dala fez grande torneio, o Fredy desempenhou muito bem o seu papel de capitão, entre outros. Angola mostrou capacidade de adaptação a contextos difíceis e facilidade de mudança a sistema tático de jogo, sem perda de qualidade e perda de eficácia. Caiu perante uma Nigéria muito forte.

- Cabo Verde. 

- Foi brilhante. Grande maturidade de uma equipa que gere muito bem os momentos de jogo. Vale muito pelo coletivo, embora tenha bons valores individuais. Foi eliminado nos quartos por um guarda-redes de grande nível, mas é justo dizer que Cabo Verde não foi além dos quartos, mas não perdeu nenhum jogo nesta fase final. 

- Moçambique.

- Teve pouca sorte no grupo em que calhou. Ainda assim realizou prestações que foram boas, com exceção do jogo contra Cabo Verde, em que os erros individuais ditaram a sorte do jogo. Deu uma boa imagem, esteve bem e fez excelente jogo contra o Egito, que merecia ter vencido. O Guima foi uma excelente naturalização. Apesar de não terem passado, deixaram boa imagem.

- Guiné Bissau.

- Foi mais uma vez desilusão. Perdeu todos os jogos, marcou apenas dois golos, sendo que um foi um auto-golo. Apresenta alguns valores individuais, mas a organização coletiva precisa de melhorar.

"Objetivo é regressar a Portugal"

- Como está a carreira do Luís Gonçalves?

- Desde que regressei a casa, já tive algumas abordagens, mas nada se concretizou. O passo seguinte será em função das ofertas e características dessas mesmas ofertas. Encaro todas as possibilidades de mente aberta.

- Gostaria de treinar em Portugal?

- Regressar a Portugal é um objetivo. Mas tudo depende das possibilidades e oportunidades. Um treinador de futebol é um cidadão do mundo e é preciso encarar todas as hipóteses de mente aberta. Mas o objetivo principal será regressar a Portugal.