José Peseiro: "Assinei pela Nigéria com o objetivo de poder vencer a CAN"
Acompanhe as principais incidências da partida
“Nunca me foi colocada nenhuma fasquia. Assinei pela Nigéria com o objetivo de poder vencer a CAN, até porque sabia da qualidade dos jogadores, da história da seleção e da possibilidade de, face aos recursos que temos, sermos campeões. Por isso, assinámos, mas só até ao final da CAN”, observou à agência Lusa o técnico português, de 63 anos.
Sucessor de Augustine Eguavoen desde maio de 2022, José Peseiro prolongou contrato com a Federação de Futebol da Nigéria (NFF) em setembro de 2023, após ter negociado “um corte salarial” relativamente ao seu vínculo anterior, que já tinha cessado em junho.
“Foi-nos proposto mais tempo de contrato na altura, mas dissemos que não. Queríamos chegar, garantir esta qualificação e ganhar a CAN. Em termos contratuais, a única coisa que estava (estabelecida) era o apuramento e não outros objetivos quaisquer”, partilhou.
Três meses antes do anúncio da renovação, as super águias tinham garantido de forma antecipada a 20.ª presença, e terceira seguida, na CAN, ao fecharem o Grupo A no topo, com 15 pontos, contra 13 da também apurada Guiné-Bissau, que reencontrarão na fase final, afastando Serra Leoa, terceira, com cinco, e São Tomé e Príncipe, último, com um.
“Apurámo-nos e tivemos o maior número de golos marcados (22) entre todas as ‘poules’, porque somos das seleções africanas com um projeto de jogo mais ofensivo. Tivemos o melhor marcador (Victor Osimhen, com 10 tentos) e um dos melhores assistentes (Moses Simon, com três)”, enfatizou, numa campanha em que a Nigéria obteve a maior vitória da sua história e das fases de qualificações para a CAN sobre São Tomé e Príncipe (10-0).
Entre o final desse apuramento e o arranque da 34.ª edição do maior torneio africano de seleções, a equipa treinada por José Peseiro iniciou a corrida ao Mundial 2026 com duas igualdades 1-1 na receção ao Lesoto e na visita ao Zimbabué, desviada para o Ruanda.
Na sequência desses duelos do Grupo C da primeira fase de qualificação africana, e em declarações reproduzidas pela agência noticiosa francesa AFP, Nse Essien, um elemento do comité executivo da NFF, mostrou-se insatisfeito pelos resultados e disse que, se o organismo “tivesse dinheiro” para indemnizar o técnico, “já estava pronto para o demitir”.
“As notícias que podem sair (sobre o seu futuro) são dezenas ou centenas. Muitas vezes, não vêm da NFF, mas sim de pessoas anónimas e em nome individual. Ligamos pouco a isso e aquilo que nos vincula é a ideia de querer ganhar a CAN, sabendo que será muito difícil. Há dificuldades, mas penso que são transversais às seleções de África”, analisou.
Ciente dos obstáculos que “influenciam de forma negativa” a construção de uma “equipa forte”, José Peseiro procura suavizá-los com recurso ao lado emocional dos futebolistas.
“Apelamos ao significado de representar a seleção nacional para chegarmos aos jogos e sentirmos o menos possível essas dificuldades. Tal como batalhamos há um ano e meio, não basta só ter bons jogadores. Fui contactado por um presidente, mas está outro (em funções) nesta fase e acedi a certas condições para ser sensível ao estado financeiro da NFF. Não sendo o ideal, evoluímos a nível organizativo, estrutural ou logístico”, ilustrou.
O técnico orienta pela terceira vez uma seleção nacional na carreira e já esteve em duas grandes provas internacionais, averbando uma dupla queda na fase de grupos da Taça Asiática, com a Arábia Saudita, em 2011, e da Copa América, pela Venezuela, em 2021.
“Futuro na Nigéria? O meu contrato acaba no final da CAN. É só isso que tenho a dizer. Neste momento, estou focado na CAN. Mais tarde, vamos ver”, direcionou José Peseiro.
Vários candidatos ao troféu
A Nigéria, campeã em 1980, 1994 e 2013, diferencia-se pelo ataque na 34.ª edição da Taça das Nações Africanas (CAN 2023) de futebol, que arranca no sábado, segundo o selecionador José Peseiro, acreditando na força global do coletivo.
“Fala-se que temos muitas soluções do meio-campo para a frente e, se calhar, menos do meio-campo para trás, mesmo que tenham qualidade. Agora, a avaliação que fizemos de vários jogadores, de vídeos e de alguns desafios ao vivo só ratificam o que pensávamos: temos uma equipa com potencial para ganhar a CAN 2023. Perante esse dado, vamos para lá com tempo de trabalho e com melhor conhecimento das características dos futebolistas e da nossa ideia e forma de jogar”, notou à agência Lusa o técnico português, de 63 anos.
Composta por 25 jogadores, dos quais apenas um atua no próprio país, a convocatória é encimada pelo avançado Victor Osimhen, designado como melhor jogador futebolista de 2023, num ano em que foi campeão italiano pelo Nápoles e melhor marcador da Serie A.
“Temos valores para a frente, mas não estou aqui a dizer que temos melhores do que os outros. Há outras seleções com muitos bons jogadores e de grande qualidade, não só no ataque, mas também nas outras posições. Osimhen foi eleito como o melhor jogador do continente e, como tal, há que considerar que temos o melhor avançado africano”, disse.
Ahmed Musa (Sivasspor), atual capitão e recordista de internacionalizações (108), Umar Sadiq (Real Sociedad), Moses Simon (Nantes), Samuel Chukwueze (AC Milan), Ademola Lookman (Atalanta) e Kelechi Iheanacho (Leicester) aumentam as opções atacantes de José Peseiro, que preteriu da lista original Taiwo Awoniyi (Nottingham Forest), por lesão.
Terem Moffi (Nice) rendeu à última hora Victor Boniface, quarto melhor marcador da Liga alemã ao serviço do líder isolado Bayer Leverkusen, que contraiu uma lesão muscular no adutor direito durante a derrota com a Guiné (2-0), na segunda-feira, num duelo particular disputado em pleno estágio preparatório para a CAN 2023, nos Emirados Árabes Unidos.
“A escolha dos atacantes até foi mais complicada, mas uma equipa não se faz apenas de avançados. É verdade que estávamos desfalcados de alguns jogadores nos últimos dois desafios (oficiais), mas criámos inúmeras chances e acabámos por não ganhar nenhum”, lembrou, em alusão ao duplo empate 1-1 na receção ao Lesoto e na visita ao Zimbabué, cumprida no Ruanda, na abertura da ronda de qualificação africana para o Mundial 2026.
José Peseiro teve ainda de substituir Wilfred Ndidi (Leicester), alvo de problemas físicos durante a viragem do ano civil, por Alhasan Yusuf (Antuérpia) no meio-campo da Nigéria, experimentando o 3-4-3 e o 4-3-3 como alternativas ao tradicional esquema de 4-4-2.
“O trabalho de seleção não é fácil. Contudo, existiu tempo suficiente para ir colocando e cimentando propostas e sentimos aquilo que esta equipa é e que cada atleta poderá dar. Ainda por cima, sabemos que há jogadores com grandes performances e qualidade nos clubes, mas chegam à seleção e não o conseguem fazer. Também há quem jogue muito bem na seleção e não tão bem nos clubes. Isto não acontece só connosco. Gostaríamos de ter tido mais treinos e jogos de preparação, mas acho que isto é suficiente”, afiançou.
O técnico reconhece ter priorizado a “simbiose de características” na construção da lista final, na qual figuram o defesa central Chidozie (Boavista) e os laterais esquerdos Bruno Onyemaechi (Boavista) e Zaidu (FC Porto), que atuam por clubes da Liga.
“Muitas vezes, há futebolistas que não são habitualmente titulares, mas, quando jogam, fazem-no bem. Além disso, têm comportamentos decisivos para a criação de um grande espírito de equipa. Estes três jogadores têm essa capacidade e qualidade”, enquadrou.
Talento ofensivo
A Nigéria, campeã em 1980, 1994 e 2013 e detentora de 15 pódios, está nos candidatos à conquista da 34.ª edição da Taça das Nações Africanas (CAN 2023) de futebol, que arranca no sábado, para o selecionador José Peseiro.
“Acho que está em aberto. Podem existir equipas mais favoritas: a Costa do Marfim, até porque joga em casa, bem como o Senegal e Marrocos, por aquilo que fizeram há muito pouco tempo. Depois, há aquelas que podem não ser tão favoritas, mas são candidatas: Nigéria, Egito, Gana, Camarões, Argélia e Tunísia, podendo estar ainda outras como a Guiné Equatorial ou o Mali”, antecipou à agência Lusa o técnico português, de 63 anos.
Presente na principal prova africana de seleções pela 20.ª ocasião, e terceira seguida, a Nigéria faz parte do Grupo A e mede forças com Guiné Equatorial, no domingo, a anfitriã Costa do Marfim, na quinta-feira, e Guiné-Bissau, em 22 de janeiro, sempre em Abidjan.
“Tudo depende daquilo que é a concentração, o foco e a determinação que os jogadores colocarão em campo. Há muita qualidade individual a ser absorvida para que se possam alcançar grandes coletivos. Muitas vezes, isso não tem a ver só com o treino - que não é muito nem usufrui de muitas condições - mas também com os laços relacionais e com os pontos de comunicação estabelecidos entre atletas, treinador e departamentos”, vincou.
Os dois primeiros colocados das seis poules e os quatro melhores terceiros rumam aos oitavos de final do torneio, que foi vencido pelo Senegal em 2022 e tinha sido adiado por um ano, face às condições climatéricas adversas na Costa do Marfim no início de 2023.
“Qualquer erro, um cartão vermelho ou uma jogada infeliz… Tanta coisa pode acontecer num torneio curto e fazer com que as melhores equipas não progridam. É para isso que temos de estar preparados e focados e já estamos concentrados. Se queremos vencer a CAN, temos de passar (à fase seguinte) e o grupo não é fácil. Será muito difícil”, admitiu.
José Peseiro destacou a importância do fator-casa da Costa do Marfim, sem esquecer “a qualidade de jogo e os jogadores” da campeã africana em 1992 e 2015, que convocou o defesa central Ousmane Diomande, do Sporting, atual líder isolado da Liga.
Quanto à Guiné Equatorial, do avançado Luís Asué, cedido pelo SC Braga B, da Liga 3, o selecionador nigeriano recordou a chegada aos quartos da edição anterior da CAN, ao contrário das super águias, que tinham perdido nos oitavos diante da Tunísia.
Peseiro vai ainda reencontrar a Guiné-Bissau, dos médios Nito Gomes (Marítimo) e Sori Mané (Académico de Viseu) e do dianteiro Famana Quizera (Académico de Viseu), todos da Liga 2, após os djurtus terem terminado o Grupo A de qualificação na segunda posição, com 13 pontos, dois abaixo dos campeões continentais em 1980, 1994 e 2013.
“Nós somos melhores do que a Guiné-Bissau, mas o único jogo oficial que perdemos até hoje foi com eles em casa (0-1, para a terceira ronda). É verdade que fomos superiores e criámos ocasiões, mas falhámos muitos golos”, lamentou o treinador coruchense, que já guiou Nacional, Sporting, SC Braga, FC Porto e Vitória SC na Liga.
Sucessor de Augustine Eguavoen desde maio de 2022, José Peseiro sente que a ideia e organização de jogo da Nigéria “não é perfeita, mas tem qualidade e pode ombrear com quaisquer das melhores seleções africanas” numa prova “dura e de bastante igualdade”.
A 42.ª colocada do ranking da FIFA conta com o central Chidozie (Boavista) e os laterais esquerdos Bruno Onyemaechi (Boavista) e Zaidu (FC Porto), todos da Liga, numa lista encimada pelo avançado Victor Osimhen, designado como melhor futebolista africano de 2023, num ano em que foi campeão italiano pelo Nápoles e melhor marcador da Serie A.