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A emergir no final da época: os diferentes casos de Florentino e Daniel Bragança

Hugo Filipe Martins
Florentino ganhou um lugar no onze do Benfica
Florentino ganhou um lugar no onze do BenficaAFP, Flashscore
Em vésperas do primeiro dérbi da semana entre Benfica e Sporting, este a contar para a segunda mão da meia-final da Taça de Portugal, há dois nomes que passaram ao lado dos confrontos mais recentes mas que podem sobressair já terça-feira: Florentino Luís e Daniel Bragança.

Siga as principais incidências do encontro

Como escrevemos no título, os casos dos dois jogadores são distintos, apesar de ocuparem posições semelhantes no terreno (Bragança é mais ofensivo) e de terem a mesma idade - ambos nasceram em 1999.

Enquanto o médio leonino atravessou, na época passada, o maior desafio da carreira, ao debelar uma lesão que fez com que perdesse toda a temporada, Florentino entrou em 2023/24 depois de um título de campeão e de ter recuperado o lugar no Benfica, após dois empréstimos a Monaco e Getafe.

Por isso, as comparações entre os dois ficam-se apenas pelo ponto essencial: ambos estão a ganhar espaço nas opções de Roger Schmidt e Rúben Amorim na fase mais importante da temporada.

Mais Tino

Roger Schmidt poderá não conhecer a expressão, mas no fundo o que queremos dizer é que, com Florentino em campo, o Benfica ganha outra capacidade para ter juízo.

Referimo-nos, claro, ao juízo defensivo, algo que o médio acrescenta de forma clara. De facto, o internacional sub-21 português tem vindo a ser um dos nomes mais mencionados pelos adeptos benfiquistas quando estes exigem mudanças ao técnico alemão.

Com João Neves e Kokçu várias vezes a fazerem dupla no miolo, o médio defensivo perdeu espaço e tem tido uma utilização intermitente na equipa encarnada.

Nos primeiros dois meses da época, foi titular apenas em três ocasiões (o Benfica venceu Gil Vicente, Portimonense e Estoril), mas foi para o banco em jogos teoricamente mais exigentes - Salzburgo, FC Porto, Inter e Real Sociedad.

Com os resultados inconsistentes e com o Benfica a correr atrás do prejuízo na Liga dos Campeões, Schmidt deu um lugar no onze ao médio defensivo, que saiu aos 31 minutos da partida com a Real Sociedad. No entanto, esse foi mesmo o período de maior regularidade do médio no onze benfiquista, o que se justifica pela ausência, por lesão, de Kokçu.

O posicionamento de Florentino no jogo com o Chaves
O posicionamento de Florentino no jogo com o ChavesSL Benfica, Opta by Stats Perform

Com o regresso do turco, a utilização de Florentino voltou a ser residual. Suplente utilizado em sete partidas consecutivas, o médio passou a mera opção de recurso.

A goleada (5-0) no Dragão fez com que Schmidt voltasse a refletir e, de opção pouco habitual, Florentino passou a titular indiscutível - antes do dérbi de terça-feira, foi titular cinco vezes consecutivas - e recebeu os elogios do próprio treinador, que já tinha destacado as qualidades do médio de 24 anos antes desta fase.

"O Florentino mostrou a sua qualidade, juntamente com o João Neves. Na minha opinião, dominaram o meio-campo com e sem bola", disse, depois do jogo com o Rangers, em casa.

As recuperação de Florentino contra o Rangers, em casa
As recuperação de Florentino contra o Rangers, em casaSL Benfica, Opta by Stats Perform

"Para todos os treinadores, é um presente porque dá tudo em campo e é muito disciplinado taticamente, no último ano desenvolveu-se muito com bola e dá muita estabilidade (...) Não tem sido sempre titular, mas tem um efeito muito positivo sempre que joga. É um jogador de topo, com uma grande mentalidade e muito bom para a equipa", afirmou, depois do jogo com o Gil Vicente.

Os números mostram que a entrada de Florentino no onze benfiquista tem vindo a ter impacto na solidez defensiva das águias. Conhecido pela capacidade de recuperação, o médio contribuiu para a recente série benfiquista de três jogos consecutivos sem golos sofridos, com uma média de 7.16 de pontuação no Flashscore.

Roger Schmidt contará com contribuição semelhante para ajudar a equilibrar a balança para a segunda mão, depois de o médio nem ter saído do banco na partida em Alvalade.

A exibição de Florentino frente ao Chaves
A exibição de Florentino frente ao ChavesSL Benfica, Opta by Stats Perform

"De Bragança a Lisboa"

Se é português, as probabilidades de que saiba o resto da música são grandes. Caso não seja, o resumo é simples: a viagem é longa. Daniel Bragança percorreu um caminho complicado, mas parece ter finalmente atingido o destino, depois de curvas e contracurvas próprias das estradas nacionais.

Apontado como um dos grandes craques de Alcochete nos últimos anos, foi depois de uma época de afirmação no Estoril que chegou à equipa principal do Sporting.

No miolo de Amorim, encontrou João Mário, João Palhinha, Matheus Nunes, Manuel Ugarte, Morten Hjulmand, Morita e até o próprio Pedro Gonçalves. Por azar, foi na época em que podia ter mais hipóteses de agarrar um lugar no meio-campo leonino que acabou por sofrer a lesão mais grave da carreira.

Em plena pré-época, lesionou-se no joelho direito e não participou em nenhum minuto da temporada 2022/23. 305 dias depois, voltou aos treinos já a pensar em 2023/24.

"Teve uma recuperação mais lenta, mas nota-se muita diferença na forma como se apresentou em treino. Não vamos arriscar nada, contamos com ele para a próxima época, vai ser um jogador muito importante e vai ser, talvez, o nosso grande reforço para a próxima época", disse Rúben Amorim, na altura.

Daniel Bragança influente no capítulo do passe
Daniel Bragança influente no capítulo do passeSporting CP, Opta by Stats Perform

Há 10 meses, provavelmente o técnico ainda não estaria a contar com a contratação de Viktor Gyökeres, indiscutivelmente o grande reforço da temporada dos leões, mas a verdade é que, aos poucos, Daniel Bragança voltou a recuperar o nível que, a espaços, já tinha mostrado no Sporting. 

O esquerdino até começou a época a titular contra o Vizela, mas ainda não estava pronto para ser opção em jogos de maior exigência.

Com apenas um minuto nos dérbis com o Benfica, Bragança não partiria como possível opção para este jogo, mas as recentes boas exibições mostraram uma faceta até então desconhecida no internacional sub-21.

Mais intenso do que nunca, foi moldado por Amorim num médio mais combativo, mas não perdeu a capacidade técnica que sempre o caracterizou. Apesar de ter realizado apenas seis jogos a titular em 2024 (três para a Liga Portugal), já convenceu Rúben Amorim e os próprios sportinguistas, que no início da época estavam reticentes em entregar responsabilidades a um jogador que parecia distante do nível da dupla habitual.

A exibição de Daniel Bragança contra o Estrela
A exibição de Daniel Bragança contra o EstrelaLUSA, Opta by Stats Perform

"O Dani (Bragança) teve um crescimento muito grande, elevou o seu jogo mais perto do rendimento do Morita e do Morten, joga com o pé esquerdo e dá-nos mais opções", garantiu o técnico leonino, antes do jogo com o Benfica.

Depois dos bons sinais nos últimos três jogos - Atalanta, Boavista e Estrela com média de 7.0 no Flashscore - chegou o momento em que Bragança conseguiu, pelo menos, criar uma dúvida no meio-campo leonino antes do jogo com o Benfica. Caso venha a ser titular, até pode voltar a envergar a braçadeira de capitão, como aconteceu na Reboleira, isto se Coates não fizer parte das opções iniciais.

Duelo não é desconhecido 

Apesar de serem duas peças em afirmação nas respetivas equipas, o duelo pessoal entre Florentino e Daniel Bragança está longe de ser uma novidade. Formados, respetivamente, no Seixal e em Alcochete, os dois já se defrontaram em 11 ocasiões, com vantagem para o médio benfiquista, que venceu seis desses duelos com o esquerdino, o primeiro dos quais quando ambos tinham apenas 14 anos.

Do outro lado, Daniel Bragança só venceu o colega de posição ao 10.º confronto individual - 0-2, em 2016/17, pelos juniores.

Neste duelo de produtos da formação que promete ser interessante pelo estilo diferente dos dois jogadores - Florentino é um ladrão de bolas, Daniel Bragança é um médio de requinte técnico -, há, no entanto, uma forte possibilidade de os dois acabarem a trocar camisola, isto porque jogaram juntos em 11 ocasiões, ao serviço das seleções sub-20 e sub-21. Curiosamente, também só perderam um jogo - a final do Euro sub-21 frente à Alemanha.

Florentino e Daniel Bragança foram colegas de meio-campo na seleção sub-21
Florentino e Daniel Bragança foram colegas de meio-campo na seleção sub-21AFP