A emergir no final da época: os diferentes casos de Florentino e Daniel Bragança
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Como escrevemos no título, os casos dos dois jogadores são distintos, apesar de ocuparem posições semelhantes no terreno (Bragança é mais ofensivo) e de terem a mesma idade - ambos nasceram em 1999.
Enquanto o médio leonino atravessou, na época passada, o maior desafio da carreira, ao debelar uma lesão que fez com que perdesse toda a temporada, Florentino entrou em 2023/24 depois de um título de campeão e de ter recuperado o lugar no Benfica, após dois empréstimos a Monaco e Getafe.
Por isso, as comparações entre os dois ficam-se apenas pelo ponto essencial: ambos estão a ganhar espaço nas opções de Roger Schmidt e Rúben Amorim na fase mais importante da temporada.
Mais Tino
Roger Schmidt poderá não conhecer a expressão, mas no fundo o que queremos dizer é que, com Florentino em campo, o Benfica ganha outra capacidade para ter juízo.
Referimo-nos, claro, ao juízo defensivo, algo que o médio acrescenta de forma clara. De facto, o internacional sub-21 português tem vindo a ser um dos nomes mais mencionados pelos adeptos benfiquistas quando estes exigem mudanças ao técnico alemão.
Com João Neves e Kokçu várias vezes a fazerem dupla no miolo, o médio defensivo perdeu espaço e tem tido uma utilização intermitente na equipa encarnada.
Nos primeiros dois meses da época, foi titular apenas em três ocasiões (o Benfica venceu Gil Vicente, Portimonense e Estoril), mas foi para o banco em jogos teoricamente mais exigentes - Salzburgo, FC Porto, Inter e Real Sociedad.
Com os resultados inconsistentes e com o Benfica a correr atrás do prejuízo na Liga dos Campeões, Schmidt deu um lugar no onze ao médio defensivo, que saiu aos 31 minutos da partida com a Real Sociedad. No entanto, esse foi mesmo o período de maior regularidade do médio no onze benfiquista, o que se justifica pela ausência, por lesão, de Kokçu.
Com o regresso do turco, a utilização de Florentino voltou a ser residual. Suplente utilizado em sete partidas consecutivas, o médio passou a mera opção de recurso.
A goleada (5-0) no Dragão fez com que Schmidt voltasse a refletir e, de opção pouco habitual, Florentino passou a titular indiscutível - antes do dérbi de terça-feira, foi titular cinco vezes consecutivas - e recebeu os elogios do próprio treinador, que já tinha destacado as qualidades do médio de 24 anos antes desta fase.
"O Florentino mostrou a sua qualidade, juntamente com o João Neves. Na minha opinião, dominaram o meio-campo com e sem bola", disse, depois do jogo com o Rangers, em casa.
"Para todos os treinadores, é um presente porque dá tudo em campo e é muito disciplinado taticamente, no último ano desenvolveu-se muito com bola e dá muita estabilidade (...) Não tem sido sempre titular, mas tem um efeito muito positivo sempre que joga. É um jogador de topo, com uma grande mentalidade e muito bom para a equipa", afirmou, depois do jogo com o Gil Vicente.
Os números mostram que a entrada de Florentino no onze benfiquista tem vindo a ter impacto na solidez defensiva das águias. Conhecido pela capacidade de recuperação, o médio contribuiu para a recente série benfiquista de três jogos consecutivos sem golos sofridos, com uma média de 7.16 de pontuação no Flashscore.
Roger Schmidt contará com contribuição semelhante para ajudar a equilibrar a balança para a segunda mão, depois de o médio nem ter saído do banco na partida em Alvalade.
"De Bragança a Lisboa"
Se é português, as probabilidades de que saiba o resto da música são grandes. Caso não seja, o resumo é simples: a viagem é longa. Daniel Bragança percorreu um caminho complicado, mas parece ter finalmente atingido o destino, depois de curvas e contracurvas próprias das estradas nacionais.
Apontado como um dos grandes craques de Alcochete nos últimos anos, foi depois de uma época de afirmação no Estoril que chegou à equipa principal do Sporting.
No miolo de Amorim, encontrou João Mário, João Palhinha, Matheus Nunes, Manuel Ugarte, Morten Hjulmand, Morita e até o próprio Pedro Gonçalves. Por azar, foi na época em que podia ter mais hipóteses de agarrar um lugar no meio-campo leonino que acabou por sofrer a lesão mais grave da carreira.
Em plena pré-época, lesionou-se no joelho direito e não participou em nenhum minuto da temporada 2022/23. 305 dias depois, voltou aos treinos já a pensar em 2023/24.
"Teve uma recuperação mais lenta, mas nota-se muita diferença na forma como se apresentou em treino. Não vamos arriscar nada, contamos com ele para a próxima época, vai ser um jogador muito importante e vai ser, talvez, o nosso grande reforço para a próxima época", disse Rúben Amorim, na altura.
Há 10 meses, provavelmente o técnico ainda não estaria a contar com a contratação de Viktor Gyökeres, indiscutivelmente o grande reforço da temporada dos leões, mas a verdade é que, aos poucos, Daniel Bragança voltou a recuperar o nível que, a espaços, já tinha mostrado no Sporting.
O esquerdino até começou a época a titular contra o Vizela, mas ainda não estava pronto para ser opção em jogos de maior exigência.
Com apenas um minuto nos dérbis com o Benfica, Bragança não partiria como possível opção para este jogo, mas as recentes boas exibições mostraram uma faceta até então desconhecida no internacional sub-21.
Mais intenso do que nunca, foi moldado por Amorim num médio mais combativo, mas não perdeu a capacidade técnica que sempre o caracterizou. Apesar de ter realizado apenas seis jogos a titular em 2024 (três para a Liga Portugal), já convenceu Rúben Amorim e os próprios sportinguistas, que no início da época estavam reticentes em entregar responsabilidades a um jogador que parecia distante do nível da dupla habitual.
"O Dani (Bragança) teve um crescimento muito grande, elevou o seu jogo mais perto do rendimento do Morita e do Morten, joga com o pé esquerdo e dá-nos mais opções", garantiu o técnico leonino, antes do jogo com o Benfica.
Depois dos bons sinais nos últimos três jogos - Atalanta, Boavista e Estrela com média de 7.0 no Flashscore - chegou o momento em que Bragança conseguiu, pelo menos, criar uma dúvida no meio-campo leonino antes do jogo com o Benfica. Caso venha a ser titular, até pode voltar a envergar a braçadeira de capitão, como aconteceu na Reboleira, isto se Coates não fizer parte das opções iniciais.
Duelo não é desconhecido
Apesar de serem duas peças em afirmação nas respetivas equipas, o duelo pessoal entre Florentino e Daniel Bragança está longe de ser uma novidade. Formados, respetivamente, no Seixal e em Alcochete, os dois já se defrontaram em 11 ocasiões, com vantagem para o médio benfiquista, que venceu seis desses duelos com o esquerdino, o primeiro dos quais quando ambos tinham apenas 14 anos.
Do outro lado, Daniel Bragança só venceu o colega de posição ao 10.º confronto individual - 0-2, em 2016/17, pelos juniores.
Neste duelo de produtos da formação que promete ser interessante pelo estilo diferente dos dois jogadores - Florentino é um ladrão de bolas, Daniel Bragança é um médio de requinte técnico -, há, no entanto, uma forte possibilidade de os dois acabarem a trocar camisola, isto porque jogaram juntos em 11 ocasiões, ao serviço das seleções sub-20 e sub-21. Curiosamente, também só perderam um jogo - a final do Euro sub-21 frente à Alemanha.