Entrevista Flashscore a Renato Coimbra: "A festa seria mais bonita com um grande em Amarante"
Se olharmos para o quadro de equipas que vai marcar presença no sorteio desta quarta-feira da Taça de Portugal, não vemos praticamente nenhuma surpresa. É o Amarante que nos obriga a acrescentar a palavra "praticamente".
O conjunto do Campeonato de Portugal é o único representante dos escalões secundários na Prova Rainha do futebol português e tem pelo menos uma divisão, a Liga 3, a separá-lo das restantes equipas presentes.
O estatuto é de outsider, ninguém duvida, mas se foi possível repetir a história, ao chegar pela segunda vez aos oitavos de final da Taça de Portugal, por que razão não será possível criar um novo capítulo. É nisso que acredita Renato Coimbra, o homem que conduz o leme do conjunto de Amarante, ainda invicto esta época. Em entrevista ao Flashscore, o treinador do conjunto do Campeonato de Portugal fala desta temporada, do trajeto na Taça de Portugal e pede um grande na sua própria casa para "fazer a festa".
Nos oitavos sem sofrer golos
- Única equipa fora das duas primeiras Ligas na Taça: o que é que significa?
Tem um grande significado. Mostra que, em termos de resultados, o Amarante está a fazer uma época extraordinária, estamos nas 16 melhores equipas de Portugal, na Taça de Portugal, que é conhecida como Prova Rainha. É uma festa para todos os clubes, mas para os mais pequenos é ainda uma festa maior. Sentimos um orgulho muito grande por estarmos nesta fase e sentimos que é um prémio para os jogadores, equipa técnica, direção e para os nossos adeptos e cidade, que nos têm acompanhado em todos os jogos.
- Só tinham chegado a esta fase uma vez...
- Para um clube da dimensão do Amarante, é um feito histórico. Em 100 anos, só por uma vez tínhamos chegado aos oitavos de final da Taça. Conseguimos igualar esse feito e para o sonho ser ainda maior era melhorar, sabendo que é difícil porque só temos no sorteio equipas profissionais.
- Às vezes olhamos para estes sorteios e vemos equipas de Primeira Liga e equipas de escalões secundários. Há a possibilidade de calhar com um grande, mas arriscar a continuidade na prova, ou sair uma equipa da mesma divisão que permita seguir em frente. Neste caso não é possível, não é?
- Isso para o Amarante não existe. Tenho a certeza que todas as equipas querem apanhar o Amarante. É normal porque qualquer que seja o jogo que o Amarante vai ter na próxima eliminatória o adversário será claramente superior. Estamos no quarto escalão. Para nós, o sorteio é uma luta desigual e estamos mais preocupados com a festa do que em passar a próxima eliminatória. Quando o jogo começar, vamos dar o nosso melhor e vamos agarrar-nos à pouca percentagem que possamos ter para tentar passar.
- Depois do mister Pedro Pinto, é o segundo treinador a levar o Amarante aos oitavos da Taça. A nível pessoal, que significado tem este apuramento?
- Para mim também é um fator de muito orgulho. Por curiosidade, o Pedro Pinto é de Amarante, eu também sou de Amarante e chegar a este patamar com o clube da nossa cidade é ainda um orgulho maior. Não há memória de um início de campeonato como estamos a fazer. Gostava de ficar marcado na história do Amarante.
- 13 jogos, zero derrotas: esperava isto no início da época?
- Não era expectável. Estamos numa série que, na minha perspetiva, é a mais forte, com nove equipas muito boas e parecidas. Não era expectável para nós, nem para ninguém. Se me dissessem que algum adversário do Amarante iria fazer o que estamos a fazer, acho que também não ia acreditar. Não há segredo nenhum. As coisas estão a acontecer de forma natural, um jogo de cada vez. Sabemos que existe motivação extra por as coisas estarem a correr bem, mas não era minimamente expectável.
- Nestes 13 jogos, o Amarante só sofreu três golos, todos para o campeonato. Há algum trabalho que explique isto?
- Nós fazemos trabalho individual e coletivo da nossa organização defensiva. É uma coisa que tento incutir porque acho que a organização defensiva depende muito da predisposição de cada um dos jogadores. O momento em que não temos a bola é fundamental. No nosso campeonato temos uma média superior a 60% de posse de bola. Se temos bola o adversário tem mais dificuldades. Tentamos pressionar alto e somos solidários, mas há um fator chave: a motivação. Eles nem nos treinos querem sofrer golos.
- Destaque na Taça, mas líder isolado do Campeonato de Portugal: o objetivo é a subida à Liga 3?
- O Amarante teve uma abordagem correta a este campeonato. O nosso foco é a manutenção e ainda não está assegurada, precisamos de mais pontos. Se conseguirmos, vamos redefinir objetivos. Esta série é muito forte, tem equipas com tradição no Campeonato de Portugal e é inevitável que algumas desçam. No ano passado, o Lourosa esteve a 12 pontos da fase de subida e depois ainda ficou em primeiro desta série. Temos o exemplo do Botafogo no campeonato brasileiro, que teve 16 pontos de avanço e provavelmente não vai ser campeão. Não vamos na conversa de que o Amarante vai subir ou à fase de subida. O primeiro objetivo é a manutenção.
- Não falam disso no balneário?
- Não, de todo. Eles sabem a mensagem que nós passamos. No início do campeonato houve equipas que assumiram esse objetivo, mas neste campeonato não faz sentido porque o equilíbrio é muito grande e por isso temos de dar um passo de cada vez.
- Em 13 jogos já tem quase tantas vitórias como na época passada: o que mudou?
- Não consigo dar a forma certa para o que mudou. No ano passado cheguei ao clube, este é o segundo ano. Na época passada mudámos metade do plantel, saíram jogadores importantes. Também estava a chegar ao Campeonato de Portugal e não tinha o conhecimento que tenho agora do potencial dos adversários. Contra o Paredes, do 11 inicial, oito faziam parte do plantel da época passada. A continuição do trabalho também é um dos aspetos que pode estar aqui a influenciar. É preciso um bocadinho de sorte, também. Já ganhámos jogos com um bocadinho de sorte e na época passada perdemos pontos também por falta dessa mesma sorte.
- Estamos a chegar ao mês de dezembro. Se tivesse de escolher uma prenda antecipada, qual seria o próximo adversário na Taça dE Portugal?
- Não me importava de ir ao Dragão, a Alvalade ou ao Estádio da Luz. Seria um prazer muito grande para nós que os nossos jogadores desfrutassem de jogar nesses estádios, mas penso muito nos adeptos que estão connosco. Se fossemos a algum desses estádios de certeza que ia muita gente, mas para promover a cidade, o clube e o nosso estádio acho que a festa da Taça seria mais bonita com um clube grande em Amarante. Na história do Amarante, só o Sporting, nos anos 70 (Taça de Portugal 1979/80), visitou o clube num jogo da Taça. Já passaram quase 50 anos e nenhum clube grande visitou o Amarante. Seria um prémio justo para todos, mas não podemos achar que é uma desilusão caso não aconteça porque toda a gente do nosso campeonato daria tudo para estar onde estamos neste momento.