Pólvora (quase) seca: Um Dragão sem chama no ataque
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Os azuis e brancos regressam a Ponta Delgada no fim de um mês de fevereiro que teve muito de esquizofrénico. Se por um lado as contas no campeonato ficaram ainda mais complicadas, sobretudo depois do empate amargo em Barcelos (1-1), o caminho para os quartos de final da Liga dos Campeões é visto de forma nítida, após o triunfo na receção ao Arsenal (1-0), que teve tanto de competente como de surpreendente.
É reconhecida a capacidade do FC Porto de Sérgio Conceição de quase se reinventar nas provas europeias, mesmo quando o mundo parece desabar nas provas internas, e a presente temporada tem sido sintomática desse estado de (des)graça dos dragões em contexto nacional e internacional.
A meio da eliminatória contra o Arsenal, e já com o Gil Vicente longe da memória, os portistas defrontam o Santa Clara nos quartos de final da Taça de Portugal, em busca de um lugar nas meias, poucos dias antes de um dos jogos mais importantes da época: receção ao Benfica, marcada para o próximo domingo, no Dragão.
Como é reconhecido, o momento não é o mais saudável do ponto de vista dos resultados, uma vez que os números não enganam. Os 49 pontos à 23.ª jornada são o pior registo desde 2013/14 na Liga e mais dois pontos perdidos será sinónimo da pior campanha da era Sérgio Conceição.
A última jornada também ajudou a agravar um registo que pode ajudar-nos a explicar os números. É que o FC Porto passou a ser (apenas) o 5.º melhor ataque da Liga, com 38 golos marcados em 23 jornadas - média de 1.65 golos/jogo -, em igualdade com o Arouca, menos 25 do que o Sporting, que tem menos um jogo, e menos 18 do que o líder Benfica. Em contraponto, os dragões têm a segunda melhor defesa da Liga.
Mas é a falta de golos que deve preocupar o reino do Dragão, pois sem golos não há vitórias. E o próximo adversário é o Santa Clara, que sofreu apenas 15 golos nos 28 jogos que disputou na presente temporada. E como colocar a bola no fundo das redes é trabalho de avançados, vejamos os números dos três pontas de lança à disposição de Sérgio Conceição.
Evanilson (30 jogos, 20 golos)
Se há culpados, o avançado brasileiro é o mais inocente de toda a situação. Evanilson é, de longe, o melhor marcador da equipa, com 20 golos, seguido por Galeno (9) e Taremi (6).
Com o iraniano longe de ser o que foi nos primeiros anos de dragão ao peito, muito afetado também por problemas físicos, Evanilson assumiu desde muito cedo uma posição de relevo no ataque portista na presente temporada, seja ele composto por um ou dois homens, em função do desenho tático escolhido por Conceição.
Depois de ter igualado os 55 golos de Rui Barros, nome incontornável na história do clube, Evanilson está a apenas um remate certeiro de igualar o melhor registo individual da carreira numa temporada.
Mehdi Taremi (25 jogos, 6 golos)
O terceiro melhor marcador estrangeiro da história do FC Porto, apenas suplantado por Jardel e Jackson Martínez, tem estado muito aquém do esperado... ou pelo menos dos níveis que apresentou desde o ano em que chegou a Portugal (2019). Em época de final de contrato, sendo que o seu destino deve mesmo passar pelo Inter de Milão, com quem já terá chegado a acordo verbal, Taremi baixou de forma considerável a sua produção de golos - seis (três na Liga) em 25 jogos.
Sérgio Conceição já veio a público defender o comprometimento do avançado iraniano com o clube, por isso continuará a haver espaço para ele até ao final da temporada, embora neste momento esteja lesionado e impedido de dar o seu contributo à equipa.
Toni Martínez (22 jogos, 3 golos)
A cumprir a 4.ª temporada ao serviço do FC Porto, Toni Martínez vive o pior momento ao serviço dos azuis e brancos. O avançado espanhol esteve com um pé e meio fora do clube nas duas últimas janelas de transferências, mas acabou por permanecer no Dragão, ainda que sem a utilização certamente desejada.
Depois dos 13 golos marcados em 50 jogos realizados em 2022/23, o camisola 29 contabiliza três golos em 22 jogos (553 minutos), cinco deles como titular. Está mais do que visto que está longe de ser a solução para os problemas ofensivos do FC Porto.
Falta de fogo
Contas feitas, Evanilson, Taremi e Toni Martinez representam pouco mais de 43% dos golos marcados pelo FC Porto, uma equipa que marcou um ou menos golos em 10 dos 23 jogos da Liga.
Ainda com legítimas aspirações em todas as provas, embora o cenário no campeonato seja difícil, é preciso acordar o ataque do Dragão para que os golos apareçam em catadupa e, por consequência, as vitórias que tão necessárias são nesta fase da temporada.