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Libertadores confirmou a ascensão definitiva de Fernando Diniz

Guilherme Bianchini
Fernando Diniz conquistou a Libertadores
Fernando Diniz conquistou a LibertadoresLucas Merçon/Fluminense
O que faltava não falta mais. Por muitos anos, Fernando Diniz conviveu com a pecha de treinador com futebol vistoso, mas sem resultados tangíveis, como quem diz troféus. A conquista da Libertadores, no passado sábado, inédita para o técnico e o Fluminense, inaugura uma nova era.

É claro que assumir a Seleção Brasileira já havia sido um passo gigante. Mas ainda restava colocar o último tijolo na construção da imagem de grande treinador.

O próprio Fernando Diniz, porém, faz questão de minimizar a importância dos títulos na avaliação de seus trabalhos. Para o técnico, os resultados são consequência da evolução de cada jogador, não só no quesito profissional, mas no bom ambiente e relações dentro do clube, bem como do estilo de jogo que resgata a essência do futebol de rua.

Diniz vibra com título da Libertadores
Diniz vibra com título da LibertadoresLucas Merçon/Fluminense

Se nós não tivéssemos vencido não íamos ser um fracasso, tal como o Boca Juniors não é um fracasso. É preciso parar com essa ideia. Quem chegou até aqui é campeão. Campeão não é só quem ganha o título. Campeão é quem vive com dignidade, quem respeita, trabalha com amor, e foi até o fim", disse Diniz em entrevista à TV Globo.

Na conferência de imprensa, um dia antes da final, o treinador já havia adotado o mesmo discurso.

"Na minha vida, não é importante como sou visto, mas sim como eu me avalio a mim próprio. Não estou à mercê da bola que vai entrar e da que não vai entrar. Se fosse assim, estaria mais propenso a ter um resultado que não gostaria, pois estaria muito mais ansioso do que estou", ressalvou.

Para chegar ao ponto mais alto da carreira, Diniz teve uma trajetória de 14 anos — quase o mesmo período em que o Fluminense demorou da derrota contra a LDU ao título contra o Boca Juniors. Do começo no interior de São Paulo à conquista da América, alguns passos simbolizaram o caminho do treinador.

Brilho no Audax

Após iniciar a carreira no modesto Votoraty, Diniz rodou por clubes do interior do estado de São Paulo e passou pelo Paraná antes de ganhar uma oportunidade no Audax, da primeira divisão do Paulistão. O trabalho do técnico ganhou notoriedade no país pelo estilo de jogo ofensivo, com troca de passes desde o guarda-redes, mesmo com um plantel limitado numa equipa pequena.

O Audax eliminou São Paulo e Corinthians nos quartos de final e meias-finais antes de perder a final com o Santos. O título não chegou, mas a primeira semente do Dinizismo estava plantada.

Trabalho no Audax deixou Diniz em evidência
Trabalho no Audax deixou Diniz em evidênciaAFP

Primeiros passos no Brasileirão

Mesmo com despromoção à Série A2 do Campeonato Paulista no ano seguinte, o trabalho de Fernando Diniz levou-o a assumir uma equipa do Brasileirão. A aventura no Athletico Paranaense em 2018, porém, durou apenas seis meses. O técnico sofreu para manter a solidez defensiva e teve resultados aquém das expectativas.

Ainda assim, Diniz seguia com prestígio no mercado. Em 2019, assumiu o comando do Fluminense pela primeira vez, quase 20 anos depois de atuar pelo clube como jogador. O futebol ofensivo do Tricolor reanimou boa parte dos adeptos resignados após temporadas medíocres, mas a falta de resultados novamente foi um problema para o técnico.

Com o Flu na zona de despromoção do Brasileirão, Diniz acabou demitido. Depois, o presidente Mario Bittencourt admitiu que se arrependeu da decisão. Mas a história de Fluminense e Fernando Diniz ainda não tinha acabado.

Diniz conversa com o artilheiro Cano antes da final da Libertadores
Diniz conversa com o artilheiro Cano antes da final da LibertadoresAFP

Ascensão e queda no São Paulo

A esta altura, o futebol no Brasil já se dividia entre os dinizistas e os anti-dinizistas. A corrente a favor do técnico enaltecia as qualidades e via potencial no trabalho; os detratores minimizavam o jogo vistoso pela falta de resultados e títulos.

Na passagem pelo São Paulo, entre 2019 e 2020, Diniz deu razão aos dois lados da polarização. O treinador levou a equipa à liderança do Brasileirão, com direito a sete pontos de vantagem — e uma defesa que sofria poucos golos.

Na reta decisiva da segunda volta, tudo desabou. O São Paulo entrou numa sequência negativa, sofreu derrotas inesperadas e viu o título escapar pelas mãos. Novamente, Diniz foi demitido antes do término do campeonato.

Diniz foi do céu ao inferno no São Paulo
Diniz foi do céu ao inferno no São PauloRubens Chiri/São Paulo

A redenção definitiva

Após trabalhos curtos no Santos e no Vasco, o destino voltou a unir Fluminense e Diniz. O técnico assumiu o lugar de Abel Braga nas jornadas iniciais do Brasileirão 2022. A partir daí, começou-se a construir a consagração definitiva.

Com ótima campanha na Série A, o Flu fez 70 pontos, ficou no terceiro lugar e garantiu vaga direta na Libertadores. Na Taça do Brasil, caiu nas meias-finais.

Diniz ao lado do presidente Mario Bittencourt com o troféu do Carioca
Diniz ao lado do presidente Mario Bittencourt com o troféu do CariocaFluminense

O ano de 2023 começou com um título histórico do Campeonato Carioca. A goleada ao Flamengo (4-1) deu a Diniz o primeiro troféu relevante. Mas o melhor ainda estava por vir.

Depois de passar pela fase de grupos da Libertadores com um 5-1 ao River Plate, o Flu de Diniz foi superando os obstáculos nas eliminatórias. Com alta dose de emoção, é verdade. O técnico marcado pela coragem, enfim, alcançou sua grande recompensa.