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Reportagem: Partido Comunista da Rússia, longe da glória soviética, soma títulos no futsal

Equipa do Partido Comunista venceu em 2020
Equipa do Partido Comunista venceu em 2020PCFR
Mais de três décadas após o colapso da União Soviética, o Partido Comunista da Federão Russa (PCFR) está longe da “supermaioria” parlamentar da Rússia Unida, do Presidente Vladimir Putin, mas no futsal continua a acumular vitórias.

Só nos últimos cinco anos, o “braço futebolístico” do PCFR alcançou dois títulos de campeão e dois de vice-campeão, numa história de sucesso que não vincula os atletas ao marxismo-leninismo e por onde já passaram portugueses e brasileiros, segundo Arkadi Beli, presidente do emblema há 15 anos.

Nos primeiros anos do século, realizavam-se torneios de futsal de equipas de partidos políticos, equipas totalmente amadoras. Foram um êxito, as pessoas gostavam e enchiam os pavilhões. O próprio (Gennadi, secretário-geral do PCFR) Ziuganov era presença assídua”, conta à agência Lusa Arkadi Beli, de 51 anos,

Depois, a formação do partido entrou no campeonato de Moscovo, que venceu em 2006, 2007 e 2008, segundo o líder do clube que fazia parte desta equipa enquanto frequentava a Faculdade de Filologia da Universidade de Lomossonov.

Entretanto, visto o interesse demonstrado, a equipa do PCFR passou a ser profissional e inscreveu-se no campeonato da II divisão, em 2009: “E começámos a evoluir”, relata Arkadi.

A festa dos jogadores na quadra
A festa dos jogadores na quadraPCFR

Ao mesmo tempo, a secção desportiva do PCFR passou a acarinhar outras modalidades, como o basquetebol, o voleibol e também a natação infantil, de frequência gratuita para as famílias de modestos rendimentos e criou filiais em 45 regiões da Rússia.

Todos os anos, organizamos torneios consagrados a essas equipas, torneios que captam muitos assistentes e têm honras de transmissão televisiva”, descreve o presidente do clube.

Aos jogadores não é exigida militância no PCFR, “de modo algum”, ainda que “alguns são realmente membros do partido, mas por sua livre vontade” e haja quem “participe em campanhas partidárias, exceto nas de natureza eleitoral”.

O “adepto mais entusiasta”, segundo Arkadi Beli, é a segunda figura do partido, Ivan Melnikov, que é também vice-presidente da Duma (parlamento), e que “conhece todos os jogadores e está a par de tudo o que acontece” no clube.

O partido, embora dedicando-se prioritariamente à política, faz-se representar nos nossos jogos. Por vezes, dá-nos sugestões, que poderemos acatar ou não”, observa.

O PCFR, sucessor do antigo Partido Comunista da União Soviética (PCUS), é a segunda maior força partidária no país, tendo eleito 57 deputados para a Duma nas legislativas realizadas em 2021, embora a larga distância da vasta maioria da Rússia Unida, que alcançou 324 dos 450 assentos parlamentares.

Nas presidenciais realizadas em março passado, e às quais vários candidatos foram impedidos de concorrer, o PCFR indicou deputado Nikolay Kharitonov, de 75 anos, que ficou em segundo lugar, recolhendo apenas 4,3% dos votos, contra 88,4% do líder do Kremlin.

No PCFR atuam jogadores estrangeiros, nomeadamente quatro brasileiros, mas só três podem entrar em campo, e parecem bem adaptados com famílias constituídas e filhos russos.

Já tivemos atletas portugueses e espanhóis, mas quando o cenário político se complicou, com as sanções e tudo o mais, deixaram o nosso país”, recorda o dirigente, referindo-se às restrições internacionais impostas e Moscovo no seguimento da invasão da Ucrânia, em fevereiro de 2022.

Duelo com o Sporting na Liga dos Campeões
Duelo com o Sporting na Liga dos CampeõesPCFR

Arkadi Beli lamenta que a sua equipa, que foi campeã pela última vez na temporada de 2022/23, não tenha podido alinhar na Liga dos Campeões, já como resultado da exclusão das formações russas das competições europeias e mundiais após a ofensiva na Ucrânia.

Resta-nos a consolação de termos defrontado o Barcelona, embora no tempo complicado da pandemia de covid, com o pavilhão totalmente vazio, o que retira muito interesse à competição”, comenta

Os embates internacionais mais de 30 anos após o desaparecimento da União Soviética e do PCUS podem ainda provocar estranheza quando entra em campo uma equipa chamada Partido Comunista, segundo o presidente do clube.

Recorda a propósito um episódio, que situa apenas como tendo ocorrido num país de língua inglesa, em que o problema da designação foi contornado com a retirada do símbolo universal da foice e do martelo do emblema do clube e mantido o kapa para a palavra Comunista e não o cê como é grafado na maioria das línguas.

O objetivo da equipa a curto prazo é, “uma vez mais, lutar pelo título de campeão, no campeonato que recentemente conheceu as primeiras jornadas, e erguer a taça” que na última temporada foi entregue à gigante energética estatal Gazprom.

Mas agora temos dois ou três jogadores muito fortes”, entusiasma-se Arkadi, afirmando que o clube “tem consciência das obrigações sociais a que está sujeito”, mas sem esquecer este objetivo.

O presidente do PCFR deixa ainda palavras para Portugal: “Respeito muito o desporto português, visitei o vosso país mais do que uma vez, tenho amigos a residir em Portugal e somos amigos de clubes portugueses, nomeadamente do Sporting, onde atuam dois russos”.

Espera que as adversidades colocadas pela situação internacional e isolamento desportivo da Rússia sejam ultrapassados.

Desejo francamente que todos nos empenhemos para ultrapassar as complicações que não nos impedem de conviver. Pelo nosso lado, esperamos voltar a competir, em breve, nas arenas internacionais”, afirmou.