Paris-2024: Gabriel Albuquerque aprendeu a importância de desfrutar
“Aprendi a desfrutar, acho que isso é o mais importante. Eu andei umas fases em que não estava a gostar, não estava a desfrutar dos momentos em que passava no trampolim e não podia ter desfrutado mais deste campeonato”, confessou aos jornalistas, ao ser questionado sobre as lições que leva dos seus primeiros Jogos.
Quinto classificado na final masculina de trampolins de Paris2024, o agora melhor português de sempre na disciplina proporcionou uma das melhores entrevistas pós-competição da delegação portuguesa na capital francesa, impressionando pela sua maturidade.
“Agora, vou desfrutar. Já passei por um processo muito doloroso, eu agora só quero estar na minha, tranquilo, nada mais. Não sei o que vou fazer, é o que me passar na cabeça. Primeiro, vou ver a minha mãe e as pessoas que me apoiaram aqui e, depois, eu não sei, não sei”, disse.
Na estreia olímpica, o jovem de 18 anos esteve particularmente irrequieto na final, reconhecendo que estava nervoso.
“Era a minha primeira final olímpica e tinha de estar ali para a frente, para trás, para o lado, para o lado, não conseguia estar quieto, não conseguia estar parado”, disse, detalhando que esteve sempre a ouvir rap “mesmo underground (…) bué agressivo”.
“Eu até conto-te uma coisa que é: nos autocarros para os treinos, aqui e lá, eu estava sempre a escrever letras e sempre a escrever. Vem um álbum, de certeza. Com um amigo meu. Já estamos a trabalhar nisso”, brincou, antes de esclarecer que é envergonhado e, por isso, não irá partilhar o seu trabalho, por não gostar de se ouvir cantar.
Apesar de só ter tirado os auriculares para executar as três rotinas (duas nas qualificações e uma na final), o ginasta de 18 anos ouviu todo o apoio que teve na Arena Bercy.
“Mesmo com estes fones, que têm cancelamento de ruído para eu não ouvir nada, conseguia ouvir tudo. É incrível, este pavilhão está cheio de malta. (…) Nunca tinha tido tantas pessoas a ver-me ao mesmo tempo. Foi de outro mundo. A primeira vez que isso aconteceu foi, provavelmente, em Birmingham, no Campeonato do Mundo, mas nada comparado a isto”, admitiu o quarto classificado nesse Mundial.
Hoje, e depois de dar os parabéns a Filipa Martins, também ela histórica para a ginástica portuguesa nestes Jogos – foi a primeira a qualificar-se para uma final all around olímpica – revela que não se arrepende de nada no seu percurso, nomeadamente de ter trocado Almada por Loulé quando tinha 11 anos.
“Este processo todo tem vindo a ser, com altos e baixos, obviamente, mas tem vindo a ser incrível este trajeto que eu tenho feito. Não mudava nada do que fiz até agora e, obviamente que valeu a pena eu ter mudado e eu adoro aquela cidade, portanto, vou continuar lá”, prometeu.