Investigador norueguês avisa: "Vamos acabar por ter ainda mais casos como o de Aursnes"
"Para alguns jogadores, vamos acabar por nos aproximar dos 90-100 jogos por época. É uma evolução absolutamente louca. Coloca a economia acima da saúde física e mental", alerta Torstein Dalen-Lorentsen, doutorado em medicina desportiva e há muito preocupado com a evolução do futebol de alta competição.
Se Haaland estiver ausente e o Manchester City chegar à final de todas as competições, o norueguês poderá jogar 59 partidas nesta temporada. Entretanto, o avançado de 23 anos falhou quase dois meses devido a lesão. Martin Ödegaard, do Arsenal, poderá ter um número semelhante de jogos.
Foi o número crescente de jogos e os problemas de saúde associados que estiveram na origem da recente retirada do antigo colega de seleção nacional Fredrik Aursnes do Benfica, apesar de só ter celebrado o seu 28.º aniversário em dezembro.
Se Haaland jogar tudo no clube e na seleção nacional na próxima época, poderá chegar aos 80 jogos, o que suscita preocupações de que os casos de Aursnes não aumentem. "No final, penso que vamos acabar por ter ainda mais casos como o de Aursnes ou do lesionado de longa duração Gavi. Em última análise, isso será negativo para todas as partes, inclusive para a FIFA. Vai prejudicar o produto", explicou o especialista norueguês, que é diretor de investigação do SINTEFF.
Dalen-Lorentsen aponta também as possíveis consequências, que poderão ser uma deterioração da qualidade do futebol, que se caracterizará mais pela capacidade física do que pela técnica. O aumento do número de jogos pode também levar a que os adeptos comecem a escolher os jogos a que vão assistir.
"Penso que todos concordamos que a carga de trabalho é demasiado pesada e que é preciso fazer alguma coisa. Infelizmente, é uma questão de dinheiro e de controlo de organizações poderosas. É algo que tem de ser levado a sério", afirmou o treinador da seleção norueguesa, Stale Solbakken, antes do particular contra a República Checa.
Se mais jogadores seguirem o exemplo de Aursnes, são as equipas nacionais que mais perdem. "Esperemos que não tenha essa consequência, mas não se pode jogar apenas pela seleção nacional. Vão surgir alguns dilemas. Alguns estão sob mais pressão do que outros, mas estamos a sentir um enorme entusiasmo por jogar pela equipa nacional", disse o treinador, que lidera a Noruega a partir do final de 2020.
Segundo Dalen-Lorentsen, não deve ser um problema para Haaland, Ödegaard e outros jogadores com calendários exigentes jogar um ou dois jogos pela seleção nacional. Pior para eles é o número crescente de jogos da Liga dos Campeões, do Campeonato do Mundo de Clubes e dos Campeonatos da Europa e do Mundo.
"É compreensível que seja uma situação difícil. É absolutamente louca a forma como os grandes clubes funcionam. Os jogadores quase não estão em casa com as suas famílias. As exigências mentais e físicas que lhes são impostas são enormes", afirma Dalen-Lorentsen.
"A resposta está nas mãos da UEFA e da FIFA. É preciso fazê-las compreender que a expansão de todos estes torneios é demasiado grande. Eles são os principais responsáveis e devem assumir as consequências", conclui.