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Matheus Pereira, ex-Sporting, pensou suicidar-se: "Vou atirar-me desta ponte"

Hugo Filipe Martins
Matheus Pereira regressou ao Brasil para jogar no Cruzeiro
Matheus Pereira regressou ao Brasil para jogar no CruzeiroAFP
Extremo brasileiro, atualmente no Cruzeiro, deu uma longa entrevista ao The Players' Tribune Brasil onde recordou o seu trajeto por Portugal, com passagens pelo Sporting e pelo Chaves, e revelou ter passado por uma depressão que quase o levou ao suicídio.

Tem apenas 27 anos, mas os portugueses já ouvem o nome de Matheus Pereira há muitos anos.

Apontado desde cedo como uma das principais promessas do Sporting, onde fez praticamente toda a formação, o extremo brasileiro foi lançado na equipa principal dos leões por Jorge Jesus e brilhou ao serviço do Chaves, orientado por Luís Castro.

Depois de passagens pela Alemanha e por Inglaterra, onde foi um dos principais jogadores do West Bromwich que subiu do Championship à Premier League, o brasileiro rumou ao Al Hilal, da Arábia Saudita, e foi aí que passou por um dos períodos mais negativos da vida.

Na entrevista ao The Players' Tribune Brasil, o extremo do Cruzeiro revelou que passou por um estado grave de depressão e que só mesmo a esposa evitou o suícidio.

"Nunca tinha dito à minha esposa aquilo que estava a sentir, mas uma das melhores coisas que fiz foi partilhar com ela o que estava a sentir. Tentou ajudar-me, fez tudo o possível, foi uma guerreira, mas eu não conseguia ver uma luz, para mim era tudo mau", começou por recordar.

"Eu só piorava, não tinha vontade de jogar, só queria ficar em casa. Estava a viver por viver. Comecei a 'quero morrer, não há solução'. Juntei tudo e disse 'não quero saber de ninguém, só quero acabar com isso'. Queria morrer todos os dias e essa vontade estava a crescer", conta.

Depois de apanhar covid-19, o brasileiro descobriu que tinha pericardite, e isso fez com que a espiral negativa quase atingisse um poço sem fundo.

"Para melhorar as coisas, fui morar para um hotel. Morava no 19.º andar, tinha uma vista espetacular, o hotel era dos melhores. Voltou tudo de novo, mas mais forte. Vivia todos os dias a querer tirar a minha vida. Passava noites em claro a beber vinho, cerveja, a minha esposa não sabia mais o que fazer. Houve um dia em que parei, 19.º andar, abri a janela e disse 'vou saltar daqui'. A minha esposa, desesperada, segurou-me e, nesse dia, não saltei", revelou o ex-Sporting, que começou a fazer terapia.

"Estava em casa com o meu amigo Paulo e a minha esposa. Peguei na chave do carro, já um pouco bêbado, desci rápido, eles vieram a correr atrás de mim, entrei no carro, quando faço marcha atrás quase atropelo a minha esposa e desapareço. Havia uma ponte em Abu Dhabi e eu disse 'vou atirar-me dessa ponte'. Saí à beira da praia, ligou-me a minha irmã que estava grávida, parei o carro, comecei a desabafar (...) Lembro-me que desliguei o telemóvel, queria ir embora, mas havia alguma coisa a travar-me, não conseguia ligar o carro. Até que minha esposa aparece, abre a porta do carro e dá-me um abraço", recorda.

A importância de Luís Castro

Na mesma entrevista, Matheus Pereira recordou outros momentos difíceis da sua vida, ainda no Sporting, e destacou o papel que Luís Castro teve na sua afirmação no futebol.

"Comecei a envolver-me com muita bebida, mulheres, as companhias não eram as melhores. Uma vez, íamos jogar com o Benfica, no sábado, e às sexta-feiras juntava-me com os meus colegas, comecei a enrolar droga, acendeu, foi girando, mas lembrei-me que jogava no dia seguinte, peguei, olhei para ela e disse 'não vou fumar. Vou jogar contra o Benfica (na formação), é importante'. Fui para o jogo, ganhámos, quando acabou o jogo, o médico chega perto de sim e diz-me 'tens de ir para o doping'. Se tivesse sido apanhado no doping, talvez não estivesse aqui", revela.

Matheus Pereira foi formado no Sporting
Matheus Pereira foi formado no SportingAFP

"Miúdo, na vida, às vezes, quando não conseguimos sozinhos, temos de deixar outro guiar. Fica calmo. Haverá sempre estrelas a iluminar o céu, mesmo que não as vejas por causa dos dias nublados’. O futebol mais uma vez estendia-me a mão, agarrei-me a Deus e fui melhorando", disse o jogador brasileiro, recordando as palavras de Luís Castro quando foi emprestado ao Chaves.