Mike Tyson cede o papel de vilão no improvável regresso ao ringue
Se os papéis se invertem isso é mais por culpa de Paul, de 27 anos, do que Tyson, com mais do dobro da idade (58 anos), que construiu a carreira tanto pelo poder demolidor dos seus punhos quanto por uma interminável sucessão de episódios infames.
“Sou o novato, o disruptor, o fala-barato. Naturalmente, as pessoas torcem contra mim, mas isso é ótimo para a modalidade”, observou Paul, que conquistou a fama na Internet – e o proveito, pois era um dos mais bem pagos criadores de conteúdos do Youtube -, antes de se lançar no pugilismo profissional.
Apesar de toda a notoriedade de que o jovem desafiador beneficia, é o regresso de Iron Mike que concentra as atenções na casa da equipa de futebol norte-americano Dallas Cowboys, em Arlington (Texas), onde são esperados 60.000 espetadores para assistir ao combate, com início às 19:00 (01:00 de sábado em Lisboa).
Após quase 20 anos de uma ausência que se perspetivava ser definitiva - ainda que em 2020 tenha participado num combate de exibição com Roy Jones Jr., sem espetadores, devido à pandemia de Covid-19 -, o ex-campeão mundial da categoria de peso mais elevada está de regresso para, previsivelmente, o último ato.
Jake Paul contra Mike Tyson: Quando é o combate e onde se pode assistir?
E Tyson não parece resignado a entregar o papel de vilão ao opositor, recuperando velhos hábitos: na quinta-feira, depois da pesagem oficial, esbofeteou Paul com a temível mão direita, quando este, sem conseguiu resistir à condição de entertainer, se aproximou a gatinhar do ex-campeão e lhe pisou a ponta do pé direito.
“A conversa acabou”, foram as únicas palavras que o apresentador do evento conseguiu arrancar, desta vez, da boca do antigo campeão, enquanto Paul exibia a fúria perante as câmaras, abrindo o apetite aos 280 milhões de subscritores da Netflix, plataforma onde o combate será transmitido.
A vida desportiva de Tyson está repleta de incidentes semelhantes e um dos mais famigerados terá ocorrido dentro do ringue, em 1997, durante a disputa do título mundial de pesados com Evander Holyfield, quando arrancou, à dentada, parte da orelha do compatriota.
Tyson perdeu não apenas o combate, mas também a licença de pugilista, apesar de ter sido posteriormente readmitido, terminando a carreira em 2005 – ou assim foi anunciado na altura -, com um saldo de 50 vitórias, 44 das quais por KO, e seis derrotas.
Duas condenações a penas de prisão, em 1992 e 1999, encurtaram-lhe a carreira e contribuíram decisivamente para a declaração de falência, há 21 anos. O confronto com Paul vai render-lhe 20 milhões de dólares, mas Tyson garante que não vai lutar por dinheiro.
Os números que Paul tem para apresentar são menores e, por isso, menos impressionantes. Ainda assim, o registo de 10 vitórias (sete por KO) e apenas uma derrota seria um excelente cartão de visita se não tivesse obtido à custa de praticantes de MMA e pugilistas de segunda linha.
Paul tem a seu favor a diferença de idade e os problemas de saúde Tyson, que já este ano teve de receber tratamento a uma úlcera no estômago, o que motivou o adiamento do combate, previsto para 20 de julho. Mas, perante Iron Mike, tudo isso pode não ser suficiente.