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Fórmula 1: O feito da Alpine no Brasil numa temporada cheia de pesadelos

AFP
Esteban Ocon no pódio no Brasil
Esteban Ocon no pódio no BrasilALESSIO MORGESE/NurPhoto/NurPhoto via AFP
"Histórico", "inacreditável". Na famosa pista de Interlagos, palco do Grande Prémio do Brasil de Fórmula 1, os franceses Esteban Ocon e Pierre Gasly ofereceram um inesperado duplo pódio à Alpine, no domingo, uma equipa que tem tido dificuldades este ano, mas que conseguiu utilizar uma estratégia que deu frutos em condições terríveis.

Dois irmãos inimigos abraçados momentos antes de oferecerem a França o seu primeiro duplo pódio em 27 anos com Jean Alesi e Oliver Panis (no GP de Espanha de 1997). A imagem é tão bonita quanto inesperada.

É preciso dizer que, desde o início da temporada, a equipa francesa tem tido dificuldades. Em segundo lugar no campeonato de construtores antes da chegada do paddock ao Brasil, a "equipa francesa de F1" nunca teria apostado num tal desempenho.

"É inacreditável para toda a equipa", disse Gasly no domingo à noite, terceiro no final de uma corrida louca que foi largamente perturbada pela chuva, na qual começou em 13.º.

"Tivemos uma época tão difícil (...) mas, nestas condições, tudo era possível e acreditámos até ao fim", explicou.

E Ocon, que terminou em segundo no GP, acrescentou: "Como Ayrton (Senna) costumava dizer, condições de chuva geralmente levam a um desempenho mau do carro."

É certo que não venceram - a vitória foi para o líder da classificação geral Max Verstappen (Red Bull) - mas a dupla da Normandia ofereceu à Alpine o primeiro duplo pódio desde a sua chegada à F1 em 2021 (anteriormente, a equipa corria sob as cores da Renault, o grupo ao qual a Alpine pertence).

Vitória? Ocon acreditava

Sob o céu escuro e caprichoso de São Paulo, a Alpine realizou um golpe estratégico notável quando, pouco antes da metade da corrida, os dois líderes George Russell (Mercedes) e Lando Norris (McLaren) retornaram às boxes, exatamente quando o regime de safety car virtual (VSC) estava a chegar ao fim.

O mau momento beneficiou Ocon, que foi terceiro depois de ter partido da quarta posição da grelha, e de se ter mantido na pista. O francês viu-se no controlo do GP à frente de Verstappen e do seu companheiro de equipa Gasly, que foi terceiro.

"O carro não estava a virar, não havia nada a reagir - mas tomámos a decisão certa", acrescentou.

E com razão: a aposta valeu a pena, já que o trio líder beneficiou de uma paragem nas boxes "gratuita" alguns momentos depois, quando a corrida foi interrompida após o argentino Franco Colapinto (Williams) ter saído da pista.

Ocon "claramente acreditava" que iria vencer - mas atrás dele, Verstappen mostrou todo o seu talento após outra neutralização, para assumir as rédeas do GP no reinício.

A jogada estratégica da Alpine levou a equipa ao 6.º lugar (em 10) no campeonato de construtores, atrás da Aston Martin, a três jornadas do fim.

"Uma relação única"

Os dois franceses, que cresceram juntos perto de Rouen, não são conhecidos por serem os melhores amigos no paddock, mas acima de tudo saborearam um pódio partilhado.

"É uma grande história, apesar das diferenças", disse Ocon, que se vai mudar para a Haas no próximo ano, depois de cinco épocas na Renault, agora Alpine - as duas últimas das quais passou ao lado de Gasly.

"Apesar de todos os altos e baixos, a nossa relação é verdadeiramente única", admitiu o seu companheiro de equipa.

"Só nós a podemos compreender, mas hoje, ao chegar ao fim destes dois anos como companheiros de equipa, é uma história maravilhosa. Conseguimos trabalhar muito bem em conjunto, impulsionar a equipa apesar de a época ser complicada, teria sido fácil largar tudo - mas fomos um vetor de motivação para todos", continuou, entrevistado pela imprensa francesa em São Paulo.

"Estou muito orgulhoso do que conseguimos alcançar, apesar das últimas notícias (a Renault vai abandonar a produção de motores de F1 em 2026). Todos os fins-de-semana, as pessoas vêm dizer 'vamos tentar dar ao Esteban e ao Pierre o melhor carro possível'", explicou.