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Paris-2024: Menor profundidade da piscina estorva novas marcas mundiais

Ainda não houve recorde olímpico nas provas de natação
Ainda não houve recorde olímpico nas provas de nataçãoAFP
A inusitada ausência de recordes mundiais nos primeiros quatro dias de natação pura nos Jogos Olímpicos Paris-2024 tem sido incitada por uma supressão de 85 centímetros de profundidade na tradicional configuração das piscinas.

“Tem-se visto piscinas com três metros de profundidade nas maiores competições, mas esta possui um valor bastante inferior (estimado em 2,15). É claro que, para uma prova normal, continua a ser uma piscina de excelência, mas estamos a falar do maior evento desportivo e todos os pormenores contam. Esse é o fator que parece fazer a diferença relativamente às últimas edições dos Jogos Olímpicos”, explicou à agência Lusa Daniel Marinho, responsável técnico da Federação Portuguesa de Natação (FPN) e professor catedrático do Departamento de Ciências do Desporto da Universidade da Beira Interior.

As primeiras 15 finais cumpridas na La Défense Arena, na capital de França, falharam a renovação de recordes mundiais, invertendo uma histórica tendência de superação nas provas olímpicas de natação, cujo auge remonta a Pequim-2008, com 25 novas marcas.

Essa fasquia foi acompanhada em solo chinês por 65 recordes olímpicos e teve notória influência de polémicos fatos de banho, que aumentavam a velocidade, flutuabilidade e resistência dos atletas, mas seriam banidos pela World Aquatics (WA) dois anos depois.

“As piscinas têm tido três metros de profundidade desde Pequim-2008. Parece um pouco estranho que Paris não tenha acompanhado essa tendência, até porque fez uma grande aposta para obter equipamentos e infraestruturas de elevado nível e a WA também tem apontado nesse sentido nas grandes provas”, enquadrou o também diretor do Centro de Investigação em Ciências do Desporto, Ciências da Saúde e Desenvolvimento Humano.

Habitual espaço para eventos culturais e desportivos, incluindo os duelos disputados na condição de anfitrião pelo Racing 92, que atua no escalão principal do râguebi gaulês, a La Défense Arena foi reformatada para acolher pela primeira vez competições aquáticas.

Se as eliminatórias do polo aquático também irão ser ali disputadas, a natação artística - que exige três metros de profundidade - decorre na piscina do Centro Aquático de Paris.

“Quanto mais profunda a piscina for, mais espaço há para que a turbulência (ocasionada pelas braçadas dos nadadores) se dissipe e tenha impacto reduzido à superfície. Quanto mais afastado um atleta estiver de um obstáculo físico, menos arrasto hidrodinâmico vai sofrer. Por isso, é diferente nadar na primeira ou na terceira pista. As piscinas têm pistas exteriores para evitar obstáculos, sobretudo as paredes laterais”, indicou Daniel Marinho.

O docente admite que a diferença de 85 centímetros em causa pode sentir-se mais “nas provas de velocidade e em estilo livre”, tal como mostraram o romeno David Popovici, ao impor-se nos 200 metros livres ao fim de 1.44,72 minutos - a pior marca de um campeão olímpico na distância desde Sydney-2000 -, ou o italiano Nicolo Martinenghi, que precisou de 59,03 segundos para dominar a decisão mais lenta em duas décadas dos 100 bruços.

“Por outro lado, temos assistido a um aspeto interessante: as finais têm sido ligeiramente mais lentas do que as ‘meias. Não é que seja totalmente inédito, mas vai um bocadinho contra aquela tendência de que, por norma, as finais são (os momentos cruciais) para se fazerem os melhores tempos. Parece-me que estamos a ver provas mais táticas”, notou.

Disputados em 2021, devido à pandemia de covid-19, os últimos Jogos atualizaram seis recordes mundiais e 33 olímpicos na natação pura, enquanto Paris2024 já renovou meia dúzia de marcas fixadas no maior evento desportivo e vai ter mais 20 finais até domingo.

“Não sei se será apenas por uma questão de estratégia ou se estarão outros fatores (em jogo), tais como a ansiedade, o nervosismo e o não conhecer tão bem os opositores, até porque houve diversas provas (pouco dispersas) por causa da covid-19 e sem o intervalo regular que habitualmente existe entre Jogos Olímpicos, Mundiais e Europeus”, finalizou.