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Paris-2024: Supersónico Zhanle espanta com dois recordes em 171 dias

Pan Zhanle bateu recorde mundial
Pan Zhanle bateu recorde mundialAFP
O nadador Pan Zhanle foi além das expectativas da China na quarta-feira, ao retirar 40 centésimos de segundo ao recorde mundial por si fixado em fevereiro para conquistar os 100 metros livres nos Jogos Olímpicos Paris-2024.

“O tempo é completamente surreal. Quando eu olhei para o placard, confesso que tinha visto 47,40 (segundos) e não 46,40. Muitas vezes, um segundo na natação é a diferença do primeiro para o 20.º (colocado). Agora, mesmo com um segundo a mais, ele venceria. Isto explica muito numa modalidade tão competitiva e, sobretudo, numa prova tão curta”, contou à agência Lusa Nuno Pina, fisioterapeuta e preparador físico da seleção chinesa.

Pan Zhanle, que completa 20 anos no domingo, foi o único a renovar recordes mundiais nas seis sessões de finais já ocorridas na La Défense Arena, na capital de França, onde sucedeu a Caeleb Dressel, detentor de oito êxitos olímpicos em diversas distâncias, que ficou eliminado da luta pelo hectómetro logo nas provas de seleção dos Estados Unidos.

“O objetivo era entrar numa final e esse dia estava marcado na nossa agenda já há dois anos. Depois, com o avanço dele nos últimos meses, a ambição começou a consistir em ganhar uma medalha, mas sabíamos que seria muito difícil. Falamos da prova rainha da natação, na qual existe uma grande densidade de ótimos atletas de praticamente todo o mundo. Por norma, os chineses não têm bons resultados em provas de velocidade, mas nas mais longas ou técnicas. Contudo, fomos vendo que poderia ser possível”, partilhou.

Nadador mais rápido nas meias (47,21 segundos), às quais tinha chegado com um dos piores tempos oriundos das eliminatórias (48,40), Pan Zhanle aprimorou a marca (46,80) lograda 171 dias antes em plena final dos 4x100 estilos nos Mundiais de Doha, no Catar.

Zhanle em destaque nos Jogos
Zhanle em destaque nos JogosFlashscore

O australiano Kyle Chalmers revalidou a medalha de prata de Tóquio-2020, após ter sido campeão olímpico dos 100 metros livres no Rio-2016 -, mas finalizou a 1,08 segundos do chinês, acima do romeno David Popovici, terceiro classificado e antigo recordista, a 1,09.

“Comecei a trabalhar com ele na área da fisioterapia e, mais tarde, assumi a preparação física individual. Revelou-se um atleta excecional. Fez logo um tempo muito bom poucos meses depois de termos iniciado este trabalho e tem vindo a tirar tempo nos últimos dois anos até que, neste momento, está no topo do mundo. Ter vencido a prova com recorde olímpico e mundial foi a cereja no topo do bolo da nossa preparação”, avaliou Nuno Pina.

O desnível entre os dois primeiros classificados de uma final olímpica do hectómetro não era tão amplo desde Amesterdão-1928, quando o norte-americano Johnny Weissmuller - que, depois, celebrizou-se longe das piscinas, ao interpretar a versão cinematográfica de Tarzan - sagrou-se bicampeão com menos 1,2 segundos face ao húngaro István Bárány.

“Acredito que há dois fatores determinantes: o talento e o não falhar na preparação. Uma vez que estes atletas já têm características tão boas e acima do nível médio, o nosso papel é guiá-los de maneira a errarem o menos possível. Mais do que reabilitar lesões ou efetuar fortalecimento muscular, há todo um trabalho de bastidores que tem de estar muito bem afinado. Aliar o talento dos nadadores a essa preparação meticulosa faz com que surjam resultados destes”, analisou à Lusa o fisioterapeuta, que coopera com Pan Zhanle há dois anos.

Na quinta-feira, o antigo nadador australiano Brett Hawke, que comanda atualmente Kyle Chalmers e já orientou o brasileiro César Cielo Filho, recordista dos 100 livres de 2009 a 2022, disse que o feito do campeão mundial e olímpico “não era humanamente possível”.

A China teve 23 nadadores com controlos antidoping positivos para trimetazidina meses antes dos Jogos de Tóquio-2020 - disputados em 2021, devido à pandemia de covid-19 -, mas a Agência Mundial Antidopagem (AMA) descartou punições pela utilização daquela substância proibida, num caso conhecido em abril, mas que nunca envolveu Pan Zhanle.

“Há sempre pessoas que aplaudem, desconfiam ou criticam assim que acontece um feito extraordinário, mas isso faz parte do desporto. Nesta fase, não há qualquer informação a indicar que o resultado não foi conseguido de uma forma limpa, justa e íntegra. Vivemos juntos em permanência num centro de alto rendimento em Pequim e a única coisa que vi foi foco, dedicação, trabalho e uma capacidade incrível de superação diária”, enquadrou.

Nuno Pina abre o cenário de o peixe voador, tal como é apelidado na natação, repetir a proeza em Los Angeles-2028 ou explorar outras provas, após ter espantado numa piscina prejudicial a novos recordes, com 2,15 metros em vez dos comuns três metros de profundidade.

“Alguns pormenores não facilitam a obtenção de boas marcas, mas há sempre algo que está na nossa cabeça. O Pan Zhanle reúne qualidades psicológicas e emocionais que o diferenciam da concorrência e, olhando para este resultado, acredito que pudesse fazer ainda melhor com outra piscina, o que é uma coisa completamente inacreditável”, atirou.