Início do século, anúncios da Playstation nos ecrãs, um plantel insuperável de lendas do desporto e o competitivo Rafa Nadal que sempre soubemos ser ele próprio. Eram outros tempos, talvez mais amáveis e naturais do que os de hoje, e por isso, agora que o natural de Manacor confirmou a sua reforma, recordamos um dos seus momentos mais divertidos e épicos fora dos courts de ténis.
Tudo começou a 30 de novembro de 2007, no relvado do Santiago Bernabéu. Iker Casillas e Nadal - um fã confesso e convicto do Real Madrid - encontraram-se no templo dos merengues para apresentar uma ação de beneficência a favor dos afetados pela malária, na qual cada um deles seria o capitão de uma equipa de estrelas de diferentes modalidades desportivas.
No pontapé de saída, empataram depois de um desafio de pontapés de raquete diretos e de um desempate por grandes penalidades, deixando o resultado em aberto para o evento principal.
Era evidente que o vencedor de 22 Grand Slams não tinha qualquer intenção de especular, deixando todos os presentes estupefactos: "Ocorreu-nos convocar os meios de comunicação social para o Bernabéu. O Rafa tinha de bater o maior número de ases possível contra o Casillas e depois dar-lhe cinco penáltis. Lembro-me que antes de entrar em campo expliquei ao Rafa todo o processo e que tinham de empatar para depois poderem dizer que teriam de repetir o jogo daqui a um mês. O Rafa respondeu-me: 'Deixa ver se percebi bem. Estás a dizer-me que se eu fizer dois ases contra o Casillas, depois fizer dois penáltis e tiver mais um para cobrar, tenho de falhar o último pontapé para empatar? Tu não conheces o Rafa Nadal. Não falho um penálti no Bernabéu, nem por brincadeira'", recordou Jesús Rodríguez, organizador do evento de beneficência "Amigos de Casillas vs. Amigos de Nadal", em 2023, durante uma conversa com a Relay.
Um Nadal imparável
Após a apresentação no Bernabéu, os rivais e amigos encontraram-se a 20 de dezembro de 2007, na Madrid Arena, com o objetivo de decidir o vencedor e angariar fundos para a luta contra a malária em África - acabaram por angariar mais de 100.000 euros.
O programa consistia num jogo de ténis de três sets e num jogo de futebol de 7, em que Rafa surpreendeu todos, marcando nada menos do que seis golos contra Iker Casillas.
O melhor da tarde, para além dos golos do tenista, foram as inúmeras estrelas que se juntaram na capital espanhola por uma causa solidária. Ao guarda-redes do Real Madrid juntaram-se os companheiros de equipa Fabio Cannavaro e Sergio Ramos, os tenistas David Ferrer, Juan Carlos Ferrero e Feliciano López, o piloto de ralis Dani Sordo, o motociclista Álvaro Bautista e os futebolistas Santi Cazorla e Frederick Kanouté. Além disso, o asturiano Fernando Alonso e o ciclista Alberto Contador completaram a prestigiada lista do guarda-redes branco.
A convocatória de Nadal também não foi má: juntou os seus colegas de profissão Carlos Moyá e Novak Djokovic. Os futebolistas Raúl González, Marcos Senna e Samuel Eto'o, o ciclista Carlos Sastre, o golfista Sergio García e os pilotos Jorge Lorenzo, Pedro Martínez de la Rosa, Carlos Sainz e Sete Gibernau.
Tal como ninguém esquecerá o que Rafa Nadal alcançou nos courts de ténis, será muito difícil para aqueles que assistiram ao jogo apagar das suas memórias a magia demonstrada pelo maiorquino na Arena de Madrid naquela tarde fria de dezembro de 2007.