O sonho destruído da futebolista Céline Haidar, vítima de um ataque israelita
Há algumas semanas, quando os bombardeamentos israelitas aumentaram de intensidade no bairro do sul de Beirute, um feudo do Hezbollah, a família de Celine refugiou-se em Baakline, uma aldeia pitoresca situada nas montanhas.
"A Céline foi obrigada a ir para Beirute para estudar e fazer a sua formação", disse o pai, Abbas Haiddar, à AFP, a partir do hospital Saint-George, na capital libanesa.
"Quando havia avisos de evacuação e de bombardeamento, ela saía de casa e regressava à noite para dormir", acrescenta.
No sábado, dia do acidente, o pai tinha-lhe telefonado para a alertar de um novo aviso de evacuação do exército israelita, que precede os atentados, e Haidar saiu de casa.
"Depois, a minha mulher telefonou-me para me dizer que a Céline estava no hospital", conta. A jovem foi gravemente ferida com um golpe na cabeça durante um ataque ao seu bairro em Chiyah.
Nesse dia, o exército israelita tinha bombardeado intensamente o bairro do sul, de manhã à noite, atingindo pelo menos dez pontos, especialmente em Chiyah.
"Hemorragia cerebral"
A jovem estava prestes a tornar-se capitã da equipa feminina da primeira divisão da Beirut Football Academy (BFA), que venceu o campeonato na época passada.
Deveria ter-se juntado à seleção para as próximas competições, especialmente para um jogo contra o Irão, que foi cancelado em outubro devido à guerra. Com a equipa nacional de sub-18, ganhou o campeonato WAFF em 2022, que coloca várias equipas da Ásia Ocidental em confronto.
Um vídeo publicado nas redes sociais comoveu os utilizadores: a jovem é mostrada no chão, com o rosto ensanguentado, enquanto um jovem ajoelhado ao seu lado grita de dor.
"O ataque foi de perto (...) ela recebeu um golpe na cabeça", disse a mãe Sanaa Chahrour à AFP. "A minha filha tem uma hemorragia cerebral e o crânio partido".
Sanaa Chahrour conta que a filha lhe tinha pedido no sábado para preparar um prato que gostava de comer.
"Uma hora mais tarde, a amiga telefonou-me para me dizer que ela tinha sido ferida", conta entre lágrimas.
"A minha filha é uma heroína", diz. "Ela vai levantar-se e voltar a jogar", acrescenta.
"Ela sonhava em jogar no estrangeiro, dizia que queria ser como o (Cristiano) Ronaldo e o (Lionel) Messi (...)", continua a mãe.
"Mataram-lhe o sonho (...) Agora toda a gente fala dela porque está ferida, numa guerra que não tem nada a ver com ela", acrescenta.
"Uma combatente no terreno"
"Os médicos estão a segui-la de muito perto", explica o pai à AFP, a partir do hospital: "Mas os danos são muito importantes, esperamos que se resolvam gradualmente".
"Estamos a pagar por algo que não é culpa nossa", lamenta enquanto chora.
Israel lançou uma campanha de bombardeamento maciço e uma ofensiva terrestre no Líbano contra o Hezbollah pró-iraniano no final de setembro.
Desde o início das trocas de tiros transfronteiriças, em outubro de 2023, no sul do Líbano, na fronteira com Israel, foram mortas mais de 3.540 pessoas, segundo o Ministério da Saúde libanês, a grande maioria desde setembro.
Entre as vítimas contam-se numerosos desportistas, segundo os meios de comunicação social. A Federação Libanesa de Futebol suspendeu todos os jogos, exceto um.
O capitão da equipa da BFA, Ziad Saadé, falou ainda com a AFP sobre a jogadoral: "Todos devem rezar por ela, para que volte para nós".
"Em campo, ela é uma lutadora. É a ligação entre a defesa e o ataque", explica o seu treinador, Samer Barbari, que se deslocou ao hospital com várias jogadoras para manifestar o seu apoio a Céline Haidar.
"É uma rapariga excecional e uma excelente jogadora", acrescenta Barbari.