A seleção brasileira quer mais dinheiro, como o Flashscore revelou, mas deveria entender também que a relação entre Nike, futebol brasileiro e adeptos já se esgotou.
Esta longa parceria sobreviveu a uma investigação no Congresso – a famosa "CPI da Nike" de 1999 – e a diversas camisolas de estética duvidosa.
Além de tudo, é a estampa da geração Neymar, que até aqui fracassou de forma retumbante com a Amarelinha.
É verdade que a relação também rendeu o equipamento do penta do Brasil, em 2002, último Mundial ganho pela seleção brasileira. E deu o clássico equipamento do Mundial-1998, que agradou aos brasileiros.
No entanto, caso a relação de quase 30 anos chegue ao fim em 2026, não deixará saudades.
Mais lembranças más do que boas
A fabricante norte-americana assumiu o lugar da Umbro em 1996, já com polémica.
Primeiro, fez a CBF romper o vínculo com a fornecedora inglesa, que deu sorte com o Tri e com o Tetra.
Segundo, conforme reportou nessa altura o jornalista Juca Kfouri, a CBF cedeu parte do seu controlo sobre a seleção brasileira no primeiro contrato com a Nike.
"A principal equipa de futebol do mundo não escolhe mais os seus adversários apenas de acordo com o planeamento da equipa técnica", escreveu Juca na Folha de S. Paulo em janeiro de 1999.
Aquele contrato previa que a Nike escolhesse o adversário do Brasil em 50 jogos particulares até ao Mundial-2006.
Outra ingerência foi que a empresa determinou que oito titulares deveriam estar presentes nesses jogos.
Dois anos depois, chegou a primeira Comissão Parlamentar de Inquérito sobre o futebol brasileiro. Os deputados convocaram a Brasília o selecionador Zagallo, Ronaldo Fenômeno e o ex-presidente Ricardo Teixeira.
A CPI queria o indiciamento de Teixeira e outras dezenas de dirigentes e empresários por conta de irregularidades no contrato com a fornecedora de material desportivo. Mas, após se arrastar até 2001, o relatório foi arquivado e tudo acabou em nada.
"Que a Nike tem força dentro da Seleção, tem", garantiu o craque Edmundo, após o vice-campeonato em 1998. O ex-avançado brasileiro alegou também que Ronaldo, figura maior da empresa desportiva, era obrigado a "jogar todos os jogos, os 90 minutos" pela Canarinha.
Em 2015, mais um escândalo: o FBI também apontou irregularidades no contrato entre Nike e CBF, dizendo que Ricardo Teixeira e a finada empresa Traffic – que intermediava os negócios da Confederação – haviam recebido dinheiro da gigante americana.
As poucas camisolas bonitas
Com exceção das já mencionadas camisolas de 1998 e 2002, os outros equipamentos canarinhos da Nike foram dececionantes.
Só a camisola principal do Mundial-2010 e a alternativa do Mundial-2018 salvam-se entre os 32 modelos (principais e alternativos) lançados desde 1997 até 2024.
O terceiro equipamento branco, confecionado em 2019, também agradou, mas não conta – terceiro equipamento é coisa de clube.
Há também na coleção algumas aberrações, como o amarelo escolhido para o Mundial-2022.
Com quase todos os equipamentos da Nike, era impossível imaginar a seleção brasileira a conquistar o hexa.
Adidas ou Puma?
Adidas e Puma já se mostraram interessados em substituir a Nike como fornecedor de equipamentos do Brasil a partir de 2027.
O Brasil vestiu Adidas uma vez apenas – no Mundial de 1978 –, e o equipamento virou um clássico absoluto.
Os demais fornecedores da seleção brasileira foram a Umbro (1970 e 1994), a Topper (1982 a 1990) e uma empresa brasileira chamada Athleta (1950 a 1974), que existe até hoje.
No Mundial-1970, aconteceu algo curioso. A Confederação Brasileira de Desporto (CBD) tinha um acordo com a Athleta e a Umbro ao mesmo tempo, e a seleção brasileira jogava uma parte com cada equipamento – que eram idênticos.
Quem sabe se a Umbro voltar o hexa chega?
Mas não é preciso ser a Umbro. O que não pode é continuar com a Nike.
A empresa americana é de longe a patrocinadora mais longínqua da Canarinha. Já deu o que tinha a dar.