Para Diego, com sofrimento: Argentina vence França nos penáltis em final de loucos (4-3)
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O estádio Lusail encheu-se de cor para testemunhar ao próximo campeão do Mundo de futebol. Do lado argentino, Lionel Scaloni - que manteve em segredo as escolhas iniciais - optou mesmo por que retirar Molina e Leandro Paredes, lançando Cristian Romero e Di Maria sob o flanco direito para tentar travar a ameaça Mbappé.
Destaque ainda para a titularidade dos benfiquistas Otamendi - a cumprir o centésimo jogo pela seleção - e Enzo Fernández que, em caso de vitória, tornar-se-iam nos primeiros campeões mundiais a jogar no campeonato português.
Do lado francês, Rabiot e Upamecano recuperaram do vírus que os afastou da meia-final com Marrocos (2-0) e regressaram às opções iniciais de Deschamps, relegando Fofana e Konaté - que fez uma boa exibição - para o banco.
A mudança no esquema argentino surpreendeu os bleus. Os sul-americanos entraram melhor e com a mira apontada à baliza de Lloris, que segurou sem problemas o primeiro remate do encontro, feito por Mac Allister, e depois Varane desviou a tentativa de Rodrigo de Paul para canto.
A cartada mágica de Scaloni
Théo Hernández estava também a acusar alguma pressão, ao perder a bola num lance que terminou com um remate muito torto de Ángel di Maria. No entanto, o ex-Benfica redimiu-se: junto à linha de fundo, deu um nó cego a Dembelé, entrou na área e foi derrubado pelo extremo francês. Szymon Marciniak apontou para a marca de grande penalidade.
Chamado a converter, Lionel Messi encarou Lloris num duelo de capitães e levou a melhor, deixando o guarda-redes voar para um lado antes de atirar para o outro. Um passo de gigante de La Pulga para igualar Diego Maradona.
Mantinham-se as dificuldades, não só táticas, como exibicionais, dos jogadores franceses. A Argentina continuou a dominar a posse de bola e a não permitir aproximações à sua área. Por este andar, seria uma sorte chegar ao intervalo em desvantagem mínima, o que... não aconteceu.
Aos 36 minutos, um golo de antologia do que é o futebol de contra-ataque com (quase) tudo ao primeiro toque. Num despejo de Upemacano para a frente, Romero tocou para Mac Allister passar a Messi, o único que deu dois toques, primeiro para ajeitar, depois para servir Álvarez que lançou Mac Allister na profundidade, o médio serviu de bandeja Di Maria com um passe que atravessou a área e o extremo atirou para o fundo das redes.
Um golo e um penálti ganho por Di Magia na primeira parte e o quarto golo do argentino em finais de grandes competições (Jogos Olímpicos, Copa América, Finalíssima e Mundial-2022), uma aposta bem ganha por Scaloni que surpreendeu e deixou Deschamps em choque no banco francês.
Tanto é que o francês mexeu de imediato na equipa, retirando Dembelé e Giroud - melhor marcador da história da seleção - para colocar Marcus Thuram e Kolo Muani. Ao intervalo, as estatísticas espelhavam o que se passava em campo.
Sem alterações no regresso dos balenários, a Albiceleste voltou a entrar muito concentrada e em ritmo alto, somando recuperações e interceções que travavam o ímpeto francês, aproveitando as bolas paradas para respirar e frustrar os franceses. Numa dessas recuperações em zona alta do terreno, Di Maria cruzou para um remate de primeira de Rodrigo de Paul para Lloris encaixar.
As incursões ofensivas da Argentina continuaram a criar problemas perante o deserto de ideias da França. Álvarez e Messi voltaram a visar a baliza francesa e ameaçar contornos de goleada. Aos 65 minutos, a primeira mexida conservadora de Scaloni: saída de Di Maria e entrada do ex-Sporting Acuña.
Resposta tardia, certeira e com Mbappé em dose dupla
Deschamps respondeu de imediato, lançando Coman e Camavinga para os lugares de Griezmann e Théo Hernández, tentando agitar as águas do ataque bleu. O resultado prático chegou, finalmente, a 10 minutos do fim da partida. Kolo Muani fugiu à marcação de Otamendi e o defesa benfiquista derrubou o avançado do Frankfurt dentro da área.
Na conversão, Mbappé rematou forte e colocado, Emiliano Martínez ainda tocou no esférico, mas não evitou o golo que relançou a partida.
Logo a seguir, o avançado do Paris Saint-Germain fez o empate com um remate fantástico de primeira, aproveitando o passe aéreo de Thuram, silenciando os adeptos argentinos e soltando a festa dos franceses. Mbappé tornou-se no segundo jogador da história a marcar em duas finais consecutivas do Campeonato do Mundo, repetindo o feito do brasileiro Vavá, em 1958 e 1962.
O encontro mudou em dois minutos, os franceses começaram a acreditar que seria possível chegar à vitória e pressionaram na procura do golo da vitória perante uma Argentina visivelmente atarantada.
Rabiot ainda ficou perto de arrumar com as dúvidas, mas Emiliano Martínez amarrou o remate com dificuldade e, nos últimos segundos, Messi ganhou espaço à entrada da área e desferiu um remate fortíssimo para uma grande intervenção de Lloris.
Impróprio para cardíacos
90 minutos não chegaram para definir o vencedor e o jogo seguiu para prolongamento, com a entrada de Montiel na Argentina. Numa fase com menor qualidade de jogo, mas maior agressividade, Scaloni recorreu ao banco para encontrar respostas ao desânimo com as entradas de Lautaro Martínez e Leandro Paredes.
O resultado foi quase imediato, com Messi a construir uma bela jogada de combinação à entrada da área, servindo Lautaro Martínez que viu o golo negado por um grande corte de Upamecano que impediu o remate.
Logo a seguir, o avançado surgiu na cara de Lloris e o defesa do Bayern de Munique voltou a desviar o esférico da baliza. Na segunda parte do prolongamento, foi novamente a Argentina que ficou perto de marcar com Messi a rematar para defesa apertada de Lloris.
Aos 108 minutos, um lance rápido do ataque argentino apanhou a defesa francesa descompensada, Messi serviu Lautaro que disparou um autêntico foguete para uma grande intervenção do Lloris, mas na recarga Messi estava no sítio certo e atirou para o golo. Upamecano ainda tentou o corte em cima da linha, mas o esférico já tinha atravessado na totalidade.
No entanto, aos 117 minutos e na sequência de um canto, Mbappé rematou à baliza, mas Montiel impediu o remate com o braço dentro da área. O avançado partiu novamente para a marca dos 11 metros e voltou a rematar para o mesmo lado, batendo Emi Martínez que voou para o outro.
O jovem de 23 anos ainda ameaçou o poker com um cruzamento a que Kolo Muani não chegou, com o esférico a sair perto do ângulo. Nos descontos, o avançado do Frankfurt surgiu isolado perante Martínez, rematou forte, mas o guardião respondeu com uma grande defesa com o pé esquerdo.
Mbappé deu início ao desempate por grandes penalidades, batendo pela terceira vez para o mesmo sítio. Messi seguiu-se e repetiu o gesto com que abriu o marcador, mas trocou o lado.
Na segunda cobrança, Dibu Martínez travou o remate de Coman. Sob pressão, o recém-entrado Dybala atirou rasteiro para o meio da baliza e colocou a Albiceleste em vantagem.
O jovem Tchouaméni foi o escolhido para tentar devolver a esperança aos bleus, mas atirou ao lado do poste. Leandro Paredes seguiu-se e colocou a Argentina com dois golos de vantagem, apesar de Lloris ter ficado perto de defender.
Na cobrança decisiva para os dois lados, Kolo Muani disparou para o meio da baliza e prolongou a história, mas Montiel não tremeu, enganou Lloris e deu o título mundial à Argentina.
Homem do jogo Flashscore: Lionel Messi (Argentina).