Depois de três participações como nadadora, em Pequim-2008, Londres-2012 e Rio-2016, Simone Fragoso, que tem nanismo, regressa aos Jogos, protagonizando um feito pouco habitual, mas não inédito no desporto paralímpico português, de competir noutra modalidade.
“Não fui a Tóquio, não por não ter tempo, mas porque só havia uma vaga para mulheres na natação, e havia uma mais bem posicionada do que eu. Mas eu não desisti”, assume Simone Fragoso, que tem 1,01 metros de altura e pesa 29,5 quilos.
Depois de saber que ficaria fora dos Jogos Tóquio-2020, Simone Fragoso foi procurar outro desporto que ainda a pudesse levar, de novo, ao maior palco do desporto para pessoas com deficiência.
“Achei que a minha carreira devia acabar num momento bom, achei que podia dar muito ao país, à minha vila, Palmela, e à minha cidade, Setúbal. Liguei para a Federação Portuguesa de Desporto para Pessoas com Deficiência (FPDD) e perguntei que modalidades estariam a explorar. Falaram-me no powerlifting e eu disse: ‘é para essa que eu vou’”, conta, revelando: “Fizemos um ensaio e nesse dia levantei 40 quilos”.
Seguiu-se um curso de juiz, juntamente com Ricardo Monteiro, o seu treinador, para perceberem bem as regras da modalidade.
“E cá estou, com mínimos e pronta para os Jogos”, afirma a atleta, prestes a completar 44 anos, explicando: “Vou competir numa categoria que junta atletas até 40 quilos de peso corporal e eu tenho 29,5. No ranking, sou a terceira da Europa e a 19.ª do mundo. Para quem começou há três anos e meio é muito bom”.
Simone Fragoso assume que, em Paris, o desafio é bater a marca dos 59 quilos e garante ter a estratégia da prova bem definida, em conjunto com o treinador.
“Elas vão-se matar para ir ao pódio e levantar pesos exorbitantes, a nossa estratégia é começar com peso baixo para conseguir marcar bem nos três levantamentos”, explica, assumindo que quer “marcar 53 kg no primeiro, 57 no segundo e 60 no terceiro”, porque “se fizer isto tudo de forma ponderada” até pode conseguir um diploma.
Simone Fragoso, que beneficiou de um convite para participar nos Jogos Paralímpicos Paris2024, que começam na quarta-feira, assume que só conseguiu fazer a preparação com muitas ajudas financeiras.
“Foi preciso muito dinheiro, foi tudo obra da minha pessoa e do meu treinador, e de muita malta e instituições que nos apoiaram. A malta lá de Palmela é uma malta boa, somos terra pequena, mas gostamos de nos ajudar. Sou apoiada e acarinhada”, admite.
Simone Fragoso é professora de educação musical e também professora e treinadora de natação, tendo recentemente arranjado, “nas 48 horas que o dia tem”, tempo para participar no musical “A Branca de Neve e o espalho do Mundo”.
“Estivemos no Parque Mayer, foi fantástico, o espetáculo fala sobre inclusão, integração, sem o habitual estereótipo da Branca de Neve e os sete anões, juntando pessoas com diversas condicionantes”, explica.
Depois de ter celebrado 28 anos nos Jogos Pequim-2008, 32 em Londres-2012 e 36 a poucos dias de competir no Rio-2016, Simone Fragoso fará a festa dos 44 na cerimónia de abertura dos Jogos Paralímpicos Paris2024 que, de forma inédita, tal como a dos Jogos Olímpicos, decorrerá no centro da cidade.