Paris-2024: Gabriel Medina, o génio do surf brasileiro em busca do ouro olímpico
Tricampeão mundial (2014, 2018 e 2021) e figura de proa da Tempestade Brasileira que vem abalando o surf mundial na última década, aos 30 anos já é considerado um dos maiores surfistas de todos os tempos.
Mas a cereja no topo do bolo seria suceder ao compatriota Ítalo Ferreira no degrau mais alto do pódio olímpico, depois de regressar a casa de mãos vazias de Tóquio em 2021. Uma das maiores desilusões da sua carreira.
"Ser medalhista olímpico é o meu objetivo e vou fazer tudo o que estiver ao meu alcance para o conseguir", disse ao site dos Jogos Olímpicos, em março.
Sem uma colocação no ranking da WSL World Tour que lhe permitisse garantir uma das duas vagas do Brasil para as Olimpíadas de 2024, Gabriel Medina garantiu a sua vaga ao vencer o torneio organizado pela Federação Internacional de Surf (ISA) em março.
Embora o seu compatriota Felipe Toledo, bicampeão mundial, o americano John John Florence e o australiano Jack Robinson tenham sérios argumentos a apresentar, Medina será como um peixe na água em Teahupo'o.
Neste lendário spot taitiano, terminou sempre no pódio, vencendo a etapa da WSL em 2014 e 2018, ficando em segundo lugar em 2015, 2017, 2019 e 2023, em terceiro em 2016 e este ano, em maio.
No seu primeiro título na Polinésia Francesa, derrotou o lendário Kelly Slater na final. Isso foi há dez anos, quando se tornou o primeiro brasileiro campeão mundial.
Mestre dos ares
De origem modesta, Medina apanhou as suas primeiras ondas aos oito anos, na sua cidade natal, Maresias, uma estância balnear perto de São Paulo (sudeste do Brasil) popular entre os surfistas.
Os seus pais tinham acabado de se separar e a sua mãe, Simone, tinha voltado a casar com o dono de uma loja de surf. O padrasto, Charles Rodrigues, apelidado de Charlão, tornou-se o seu treinador. Foi com ele que se estreou no circuito mundial, em Bells Beach, na Austrália, em 2010. Tinha 16 anos de idade.
No ano seguinte, levantou o seu primeiro troféu num palco da WSL, em França, em Hossegor.
Um ano depois do primeiro título mundial, Medina teve outro ano de destaque em 2015, conquistando a Tríplice Coroa ao vencer as três etapas havaianas do circuito, outro feito inédito para um brasileiro.
Os truques aéreos são a sua especialidade. Tem a seu favor o primeiro salto mortal de costas numa competição, no Rio de Janeiro, em 2016.
"A sua qualidade técnica é impressionante, com truques e tubos incríveis, e a sua capacidade de surfar ondas do início ao fim que parecem impossíveis de domar", disse à AFP Tulio Brandão, autor de uma biografia do campeão brasileiro.
"Ele é um génio, faz coisas que mais ninguém consegue fazer", insistiu.
Celebridade e depressão
Assim que conquistou o seu primeiro título mundial, Medina rapidamente ascendeu ao estatuto de ídolo nacional, num Brasil desprovido de grandes estrelas do desporto.
"Ele ajudou a popularizar o surf no Brasil e na América Latina. O número de brasileiros interessados no desporto não pára de crescer", disse à AFP Ivan Martinho, presidente da WSL para a América Latina.
Evangélico, o surfista costuma citar Deus nas suas publicações nas redes sociais, onde tem mais de 11 milhões de seguidores. Gabriel Medina aparece regularmente com celebridades, como o jogador de futebol Neymar e a estrela pop Anitta.
A sua relação com a ex-mulher, a modelo Yasmin Brunet, foi o tema dos tablóides até à separação em 2022. Em 2020, o brasileiro pôs fim à colaboração com Charlão, o seu treinador de longa data, devido às tensões com a ex-namorada. Com uma depressão após o divórcio de grande visibilidade, fez uma pausa na sua carreira desportiva no primeiro semestre de 2022.
"Ele era uma máquina de vencer, um concorrente feroz. Mas agora não está mais no jogo para ganhar a todo custo, ele quer acima de tudo divertir-se", diz o biógrafo Tulio Brandão.