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Paris-2024: O que se sabe sobre a polémica que tem afetado o boxe olímpico

AFP
Imane Khelif depois de Angela Carini abandonar o ringue
Imane Khelif depois de Angela Carini abandonar o ringueAFP
Um escândalo envolveu o boxe nos Jogos Olímpicos de Paris, depois de uma pugilista argelina, que já tinha falhado um teste de elegibilidade de género, ter parado a sua adversária ao fim de 46 segundos.

A AFP analisa o escândalo, que se espalhou para fora do ringue, mas que é mais complicado do que parece à primeira vista, com os próprios responsáveis olímpicos a admitirem que se trata de um "campo minado".

Quem é que está envolvido?

A pugilista argelina Imane Khelif, de 25 anos, que luta na categoria de 66 kg, e a natural de Taiwan Lin Yu Ting, de 28 anos, que luta na categoria de 57 kg.

A polémica estalou depois de Khelif ter vencido a sua luta contra a italiana Angela Carini em apenas 46 segundos com dois murros "fortes" no nariz da italiana, que começou a sangrar profusamente.

Tanto Khelif como Lin foram desqualificados dos campeonatos mundiais de 2023 em Nova Deli, organizados pela Associação Internacional de Boxe (IBA), por não cumprirem os "critérios de elegibilidade".

No entanto, ambos competiram nos Jogos Olímpicos de Tóquio e foram autorizados a lutar em Paris.

Qual foi o teste de "elegibilidade"?

É aqui que as coisas começam a ficar confusas. A IBA afirmou num comunicado que os atletas "não foram submetidos a um exame de testosterona, mas foram sujeitos a um teste separado e reconhecido".

No entanto, as "especificidades" desse teste "permanecem confidenciais".

Lin não recorreu da decisão, observa a IBA. Khelif levou o seu caso ao Tribunal Arbitral do Desporto (CAS), mas depois retirou o recurso.

A IBA disse que o teste "indicou conclusivamente" que ambas não cumpriam os critérios de elegibilidade exigidos e tinham "uma vantagem competitiva sobre outras competidoras".

Lin festeja depois de uma vitória
Lin festeja depois de uma vitóriaAFP

Na altura, Khelif disse que lhe tinham dito que tinha "características que significam que não posso lutar com mulheres", afirmando que era vítima de uma "grande conspiração".

O perfil de Khelif no sítio de informação dos meios de comunicação social de Paris-2024 dizia inicialmente que ela tinha sido desqualificada dos campeonatos mundiais devido a "níveis elevados de testosterona", mas essa informação foi posteriormente retirada.

O porta-voz do Comité Olímpico Internacional (COI), Mark Adams, disse que era um "facto" que essa era a razão, mas afirmou que a IBA tinha tomado uma "decisão súbita e arbitrária" de desqualificar as pugilistas.

Adams disse que o critério do COI foi o género indicado nos passaportes dos pugilistas, mas reconheceu que "não se trata de uma questão a preto e branco".

A medição da testosterona não é satisfatória, disse Adams aos jornalistas. "Há muitas mulheres com níveis mais elevados do que os homens, pelo que a ideia de que um teste de testosterona é uma espécie de solução mágica não é verdadeira", disse Adams.

A questão de género

Não. Nenhum dos pugilistas é conhecido por se identificar como transgénero e o COI criticou as "notícias incorrectas" nesse sentido.

"Devo deixar isto absolutamente claro para todos: não se trata de uma questão de transgénero. Estas mulheres participam em competições há muitos anos", afirmou Adams.

Adams advertiu para a possibilidade de transformar o escândalo numa "caça às bruxas", acrescentando: "Isto envolve pessoas reais e estamos a falar da vida de pessoas reais".

Khelif disse à UNICEF numa entrevista no início deste ano que entrou para o boxe depois de se ter esquivado aos socos dos rapazes que se sentiam ameaçados pelas suas capacidades futebolísticas.

Lin atribui as dúvidas sobre o seu género ao seu penteado curto e à sua altura (tem 1,75 m). "Se usasse o meu cabelo comprido, teria de passar muito tempo a tratar dele", disse à CNA, a agência noticiosa semi-oficial de Taiwan.

Luta política

As duas atletas parecem ter sido apanhadas numa luta entre a IBA e o COI.

O COI retirou à IBA a responsabilidade pela organização dos Jogos de Paris devido a questões financeiras, éticas e de governação.

A "Unidade de Boxe Paris-2024", um organismo especial criado pelo COI, está a dirigir a competição olímpica e tem critérios de elegibilidade menos rigorosos do que a IBA.

"Os diferentes regulamentos do COI sobre estes assuntos, nos quais a IBA não está envolvida, levantam sérias questões sobre a equidade competitiva e a segurança dos atletas", acusou a IBA.

O COI ripostou. "Tal como nas anteriores competições olímpicas de boxe, o género e a idade dos atletas baseiam-se no seu passaporte", afirmou a organização: "Todas as pessoas têm o direito de praticar desporto sem discriminação".

Reações

Feroz e imediata. Políticos e celebridades começaram a fazer chover críticas nas redes sociais uma hora depois de o combate ter terminado.

A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, afirmou que o combate "não estava em pé de igualdade".

O candidato à presidência dos Estados Unidos da América, Donald Trump, declarou na sua rede social Truth: "Vou manter os homens fora dos desportos femininos!"

O seu companheiro de campanha, JD Vance, descreveu o combate como um "homem adulto a bater numa mulher num combate de boxe", acrescentando: "Isto é nojento e todos os nossos líderes deviam condená-lo".

A autora de Harry Potter, JK Rowling, disse no X, anteriormente Twitter, que os Jogos de Paris ficariam "para sempre manchados pela brutal injustiça cometida contra Carini".

Não há qualquer sugestão de que qualquer um dos pugilistas tenha sido um homem.

Nenhum dos pugilistas se pronunciou sobre o assunto, tendo Khelif dito apenas que: "É sempre gratificante ganhar numa competição tão importante, mas continuo concentrada no meu objetivo de ganhar uma medalha."

O que se segue?

Lin entra no ringue contra Sitora Turdibekova, do Uzbequistão, na sexta-feira, às 12:30 CET.

Khelif luta contra Anna Luca Hamori, da Hungria, nos quartos de final, no sábado, às 16:22 CET.

Quanto à polémica, esta continua.