Paris-2024: Telma Monteiro triste e orgulhosa pelo seu combate pelos sextos Jogos
A atleta do Benfica, de 38 anos, ficou à porta dos seus sextos Jogos Olímpicos, acabando por desabafar na sua página oficial na rede social Instagram: “Por onde se começa um texto que nunca imaginámos escrever”.
“Este ciclo não termina como os últimos cinco. Cinco ciclos olímpicos, cinco qualificações olímpicas. Tudo parecia indicar que seriam os sextos e, assim, história”, refere Telma Monteiro, aludindo ao recorde de presenças femininas em Jogos, que já detém em igualdade com Fernanda Ribeiro e Susana Feitor, todas atrás do antigo velejador João Rodrigues, que conta com sete, e do ainda marchador João Vieira, com seis.
Telma Monteiro, que seria também a primeira judoca a nível mundial, a conseguir o hexa em participações, reconheceu que o que escreveu é insuficiente para descrever o sentido e vivido nos últimos meses, recordando ter sido operada, em novembro de 2023, ao ligamento cruzado anterior, ao lateral interno e menisco, e todo a luta pela presença em Paris-2024, regressando, “cinco meses depois”.
“Faltava um mês rara terminar a qualificação quando regressei à competição. Tinha pela frente quatro provas seguidas. Nem em forma faço esse planeamento, mas não havia outra opção”, vincou.
O risco, que classificou de kamikaze, ficava a dever-se à probabilidade de voltar a lesionar-se: “A determinada altura decidi aceitar que ia rasgar. Só rezava para que não fosse grave e já tivesse conseguido pontos suficientes”.
“Consegui um sétimo lugar no Europeu, praticamente sem preparação especifica nenhuma. E seguiram-se mais dois Grand Slam e o Mundial tudo seguido. O corpo foi ficando cansado, a cabeça queria, mas o corpo, com falta de preparação, não conseguia corresponder. (…) Foi frustrante, duro em todos os aspetos”, admitiu.
Fora dos lugares de apuramento direto, Telma Monteiro disputou e venceu a categoria de -57 kg do Open de Abidjan, na Costa do Marfim, em 08 de junho último.
“Mesmo assim, depois de tudo, ainda arranjei forças para ganhar um Open, só pela possibilidade de subir no ranking e ficar na posição de repescagem mais alta (…). Ficar a um lugar de ir aos Jogos Olímpicos depois de tudo o que aconteceu, depois de todo o esforço, é muito duro. Não parece real”, lamentou.
Consumada a ausência, fora dos apurados Catarina Costa (-48 kg), Rochele Nunes (+78 kg), Jorge Fonseca (+100 kg), Patrícia Sampaio (-78 kg), Bárbara Timo (-63 kg) e João Fernando (-81 kg), aos quais se juntou, em 29 de junho último, a repescada Taís Pina (-70 kg), Telma Monteiro agradece que a ajudou neste percurso, do qual diz sentir “tristeza e orgulho “.
“Obrigada por terem tentado comigo. Não terminou como um conto de fadas, mas foi, sem dúvida, um percurso daqueles como nos filmes dos super-heróis”, rematou Telma Monteiro, deixando, na despedida, a certeza: “Era possível”.
Telma Monteiro estreou-se nos Jogos Olímpicos Atenas-2004, nos quais ficou em 12.º lugar em -52 kg, melhorando para o nono em Pequim-2008. Em Londres-2012, já em -57 kg, terminou no 17.º posto, antes da medalha de bronze, na mesma categoria, no Rio-2016, e do nono posto em Tóquio-2020.
Apesar deste desfecho, a judoca do Benfica, quatro vezes vice-campeã mundial e seis vezes campeã europeia, além de muitas outras subidas ao pódio, não deu por encerrada a sua carreira.