Publicidade
Publicidade
Publicidade
Mais
Publicidade
Publicidade
Publicidade

Paris-2024: Treinador José Costa é apenas um "profissional" a representar outro país

José Costa marca presença nos Jogos-2024
José Costa marca presença nos Jogos-2024LUSA
Ter passado por um apuramento olímpico enquanto treinador é “gratificante” para o velejador José Costa, que encontrou um mundo novo quando assinou por Espanha, confessando sentir-se apenas “profissional” por ir acompanhar outra seleção em Paris-2024.

“Ter passado por um apuramento, mas numa outra posição, até é gratificante e é giro. Eu gosto”: é assim que José Costa resume a experiência de se ter qualificado para os Jogos Olímpicos Paris-2024, mas como treinador da equipa espanhola de 49er FX (femininos).

O convite para integrar o corpo técnico espanhol surgiu depois de ter treinado “um miúdo dinamarquês”, com o qual, por ele ser júnior, acabou por fazer algumas provas em Vilamoura contra a frota feminina.

“Fiz regatas contra a frota feminina olímpica (espanhola), e ficámos sempre no pódio. E, de alguma forma, despertei um bocadinho o olhar de alguns treinadores que estavam no circuito, (…) um deles foi um espanhol, que estava na altura à frente da equipa nacional espanhola, mas que ia sair (…). Contactou-me um mês ou dois depois, dizendo se eu estaria interessado ou disponível para ele dar o meu nome à federação espanhola no intuito de ser uma possibilidade para o substituir nesse cargo”, relatou à Lusa.

Nos bastidores, o diretor da Federação Espanhola de Vela já tinha proposto o nome de José Costa às velejadoras espanholas e procurado referências junto a antigos praticantes portugueses, nomeadamente Gustavo Lima e João Rodrigues.

“Fui contactado para um bloco de treino à experiência, fui contactado uma segunda vez para um bloco um pouco maior, um pouco mais sério. E assim que cheguei lá, eles puseram-me logo o contrato à frente”, detalhou.

Ao chegar à federação vizinha, o algarvio ficou “impressionado e surpreendido", pelo investimento “realmente” grande, pelos recursos e por serem “muito centrados naquilo que é melhor para o atleta”.

“Aliás, uma das coisas que eu tive mais dificuldade foi a gestão de tanta gente à minha volta, que (…) às vezes retirava-me a mim tempo de olhar para os atletas. Eu queria estar sozinho com os atletas, quieto, sossegado, e tinha uma diversidade de gente, das mais diversas áreas, sempre - eu não vou dizer chatear -, mas a tentar a minha atenção, a procurar a minha atenção, exatamente para intervir junto dos atletas, ou para intervir comigo, para depois melhorar nos atletas, e isso foi uma coisa que realmente é abismal. É um panorama completamente diferente daquilo que é o nosso país”, vincou.

Aos 40 anos, e depois de ter representado Portugal no Rio-2016 (16.º) e em Tóquio-2020 (sétimo), ao lado de Jorge Lima, o olímpico português diz continuar a aprender no seu novo papel.

“Muita gente pensa que sendo bom velejador, ou tendo um passado de bom nível, que é relativamente simples. É, do ponto de vista técnico, tático, estratégico, isso é. E do processo, porque o ir aos Jogos Olímpicos ou uma preparação olímpica não vem só do conhecimento técnico, vem também de todo o processo”, analisou, em entrevista à Lusa.

Assim, Costa teve de desenvolver valências novas, nomeadamente de logística, uma vez que agora coordena “uma equipa multidisciplinar, com diversos profissionais à volta, que se complementam e trabalham em sinergia para o atleta”.

O agora técnico estará no campo de regatas de Marselha com as cores de Espanha, após uma escolha profissional que nem foi a inicial, já que depois de Tóquio-2020 tinha manifestado ao então presidente da Federação Portuguesa de Vela, António Roquette, disponibilidade para ajudar o país e a modalidade, “trabalhando como técnico ou como treinador”.

“Ele manifestou muito interesse e disse que ia contar comigo. Acontece que, entretanto, ele saiu, houve eleições na federação e eu fui contactado nove meses depois para saber se tinha disponibilidade para ser treinador (…). Já estava há alguns meses a trabalhar para a federação espanhola”, revelou.

Questionado sobre como será representar outro país nos Jogos Olímpicos, José Costa diz ser “profissional”.

“Sou português, tenho um grande orgulho em ser português, do ponto de vista institucional estou ligado ao Comité Olímpico pela Comissão de Atletas Olímpicos (é secretário-geral), a representar os atletas. Tenho muito orgulho quando ouço o hino, tenho muito orgulho quando vejo os trajes, tenho muita pena (…) de não ir trajado naqueles trajes, com a nossa bandeira e com as nossas cores. Mas a verdade é que é a vida, eu sou profissional disto”, reforçou.

No entanto, admite, será “impossível” não olhar para as classificações dos quatro velejadores que vão representar Portugal nestes Jogos Olímpicos, com a competição a decorrer em Marselha.

José Costa vai trabalhar na seleção espanhola nos Jogos
José Costa vai trabalhar na seleção espanhola nos JogosLUSA

Acredita que vela lusa vai trazer diploma 

José Costa acredita que os velejadores Diogo Costa e Carolina João, em 470 mistos, podem conquistar um diploma para Portugal nos Jogos Olímpicos Paris-2024, elogiando também os estreantes Eduardo Marques e Mafalda Pires de Lima.

“Podes dividir a equipa portuguesa - que são quatro - em dois: um campo dos que vão participar pela primeira vez, que é o Eduardo e a Mafalda, e depois tens o campo dos experientes que, embora não juntos naquela classe, já têm experiência olímpica, como a Carolina e o Diogo”, começou por distinguir o algarvio, olímpico por Portugal em 49er no Rio2016 e em Tóquio2020.

A velejadora de 27 anos representou Portugal em Tóquio-2020 em laser radial (foi 34.ª), enquanto o portuense, da mesma idade, foi 15.º em 470 masculinos, ao lado do irmão Pedro Costa, na capital japonesa.

Para o atual treinador da equipa olímpica espanhola de 49er FX (femininos), Carolina João e Diogo Costa “estão num bom nível, estão em crescendo”, após terem “desenvolvido um trabalho excecional com o treinador e com o sparring”, ou seja, com os companheiros de treino Beatriz Gago e Rodolfo Pires.

“Têm feito um trabalho excecional, para mim o melhor trabalho que se pode fazer, que é duas equipas a trabalhar, sem picardias e sem assuntos, sem mau ambiente, mas a trabalhar para um futuro. (…) Acho que eles têm grandes hipóteses, ou francas hipóteses de ter sucesso. O que é que eu digo sucesso? Para mim, eu acho que os oito primeiros, ser diploma, é um sucesso. Para a realidade que o nosso país tem, sem dúvida nenhuma”, defendeu.

José Costa vai mesmo mais longe: “Podem lutar por medalhas? Podem. Têm essa possibilidade? Têm essa potencialidade, mas eu acho que, até para eles, encarar os Jogos Olímpicos a desfrutar, mas de uma maneira séria, oito primeiros é ótimo”.

Já Eduardo Marques, em ILCA 7, e Mafalda Pires de Lima, em kite feminino, são “estreantes de maneiras diferentes”.

“A Mafalda é muito nova, numa modalidade que começou agora, apurou à última da hora, no último lugar possível. Eu acho que ela vai lá desfrutar, tem o mérito de ter trabalhado muito para conseguir o apuramento. Vai lá desfrutar e, depois, seja o que a cabeça e o corpo dela mandarem para o futuro”, disse, em entrevista à agência Lusa.

Na última regata de qualificação para os Jogos Olímpicos, na Semana Olímpica de Hyères, em França, Mafalda Pires de Lima, de 26 anos, conseguiu para Portugal a última das cinco vagas que estavam em discussão.

“O Eduardo leva muitos anos a competir, eu já fui o treinador dele, inclusive. Ele começou nos lasers pela minha mão, conheço-o bem. É um miúdo também muito focado, muito concentrado. Acho que tem pecado ao longo dos anos por uma falta de apoio do ponto de vista técnico ao lado dele, que o permitisse evoluir, mas é de louvar que, mesmo assim, muitas vezes sozinho, ele tem conseguido levar os resultados da embarcação, do laser e dele, muito, muito, muito longe”, destacou.

O olímpico português considera que Marques, de 30 anos, é “alguém com muito potencial”, revelado desde “pequenino”.

“Ele, do ponto de vista das suas potencialidades, é incrível e eu acho que, numa semana boa, se não houver perturbações...As coisas podem-lhe correr realmente de feição e pode ambicionar estar lá para lutar por um diploma. Se as coisas correrem menos bem, ele também nunca se perde muito, vai estar sempre nos lugares primeiros, eu diria que no top 15”, perspetivou, ressalvando que em ILCA 7, a classe que tem “a frota mais numerosa” e é das “mais competitivas”, é preciso “ter muita calma”, até porque são “os mais ínfimos” detalhes a fazer a diferença.

Sobre a escolha de Marselha para acolher as regatas, a quase 800 quilómetros do epicentro dos Jogos, em Paris, Costa, em jeito de brincadeira, disse parecer-lhe “mais indicada do que o Taiti para o surf”.

“A costa oeste, a costa norte, Normandia, é demasiado fria, é demasiado tempestuosa, aquilo seria um massacre. Acho que lá em baixo, no Mediterrâneo, as condições são melhores. (…) O campo de regatas em si, parece-me, é difícil, é complexo, mas com um bocadinho de estudo, um bocadinho de prática, vai-se lá. O único senão é a cidade, não é? Toda a gente sabe que a cidade é perigosíssima, roubos, assaltos, bairros, 30 por uma linha, portanto todos um bocadinho apreensivos com isso. Mas, depois do Rio de Janeiro, Marselha é um aperitivo”, lembrou.

José Costa abordou final de carreira
José Costa abordou final de carreiraLUSA

Anúncio do final de carreira que nunca fez

O anúncio do final da carreira de José Costa ainda “está para ser feito”, com o velejador que fez dupla com Jorge Lima em dois Jogos Olímpicos a despedir-se resolvido e “satisfeito” com um percurso que o orgulha.

“Nós, a seguir aos Jogos de Tóquio, ou quando fomos para Tóquio, já fomos com uma ideia de que dificilmente conseguiríamos ou faríamos uma outra campanha. E, portanto, eu acho que, tanto eu como o Jorge, nós estamos bem resolvidos nesse sentido”, começou por dizer, em entrevista à agência Lusa.

Aos 40 anos, José Costa é, atualmente, treinador da seleção espanhola de 49er FX (femininos), depois de ter representado Portugal no Rio-2016 (16.º) e em Tóquio-2020 (sétimo), ao lado de Jorge Lima.

“Não tivemos que abandonar a carreira por um mau resultado, ou por um não apuramento, ou por uma lesão. Nós, ao fim e ao cabo, decidimos não continuar nas campanhas olímpicas enquanto atletas, por motivos pessoais, por motivos que foram pensados”, justificou.

Três anos depois de terem conquistado um diploma, com o sétimo lugar em Tóquio-2020 – a competição realizou-se em 2021 devido à pandemia de covid-19 -, o olímpico português reconhece que o anúncio do final da carreira da dupla ainda “está para ser feito”.

“Em dezembro de 2021, janeiro de 2022, foi quando tomámos a decisão. Até porque a Federação Portuguesa de Vela, nessa altura, nos pediu que tomássemos uma decisão, porque, enfim, existem uma série de vicissitudes inerentes à participação numa preparação olímpica, que têm de ser tomadas e têm de ser ditas e exigidas”, contou agora.

Meses antes, Costa e Lima tinham acabado Tóquio “com um sabor amargo por aquela última regata”, que os podia ter deixado “na luta pelas medalhas” – foram penalizados por uma largada fora de zona -, mas com “um sentimento gratificante”.

“Trabalhámos muito, evoluímos muito e conseguimos um diploma que era, pelo menos, aquilo que desejávamos. Nós, e todo o país, o Comité Olímpico (de Portugal), a Federação Portuguesa de Vela”, completou.

Ainda assim, os dois tinham “vontade e energia para mais”. “Prova disso é que eu continuo a fazer algum treino. E, portanto, do ponto de vista físico, não é limitante nem nada que se pareça pela idade, ou o que quer que seja. Foram outros fatores, realmente, do ponto de vista pessoal, que nos levaram a tomar a decisão de não continuar”, reiterou.

Atual secretário-geral da Comissão de Atletas Olímpicos, o algarvio assume ter-se despedido “satisfeito” com uma carreira que o “orgulha muito”, e na qual aprendeu “muito” com pessoas “muito boas”.

“Comecei muito novo com o Gustavo (Lima), fiz tripulação com o irmão mais novo, com o Jorge. Navegámos 12, 13 anos juntos, aprendi muito com os dois. Evoluímos muito eu e o Jorge, criámos muitas amizades, muitos laços, muitas vivências. Tivemos muitos bons resultados e, hoje em dia, olhando para o panorama mundial, acho que realmente nós conseguimos uma série de resultados contra (…) países que têm uma diversidade e uma magnitude de apoios, de estrutura, de trabalho, que são muito, muito superiores àquilo que nós, algum dia, poderíamos sequer pensar em ter”, salientou.

Menções