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Reportagem: Reputação do skate faz um 180 ao chegar a Paris para os segundos Jogos Olímpicos

Reuters
O skater de rua brasileiro Felipe Gustavo faz uma manobra
O skater de rua brasileiro Felipe Gustavo faz uma manobra Reuters
Outrora visto como o passatempo de desocupados e vagabundos, a reputação do skate está a mudar rapidamente após a inclusão nos Jogos Olímpicos de Tóquio há três anos.

O desporto atraiu um público jovem muito necessário na estreia olímpica em 2021, o que levou os organizadores a mantê-lo para os Jogos de Paris e para a festa de regresso a casa em Los Angeles, em 2028.

É uma situação muito diferente da dos anos 80 e 90, quando os "surfistas do asfalto" eram vistos por muitos como um incómodo e proibidos em muitos espaços públicos nos Estados Unidos, o que levou ao aparecimento do popular slogan de protesto "Skateboarding is not a crime" ("O skate não é um crime", ndr).

"As perceções mudaram muito depois dos Jogos Olímpicos", disse o brasileiro Felipe Gustavo à Reuters, num evento que levou os melhores skaters do mundo ao Centro de Performance Atlética da Red Bull, em Los Angeles.

"Estávamos sempre a ser julgados como sendo criminosos, drogados, tudo isso. Agora é como se fossem os miúdos fixes da televisão. Sempre que estamos a andar de skate no aeroporto, toda a gente pensa: 'oh, o meu filho anda de skate'. A mentalidade está a mudar", contou.

Gustavo, que competiu no skate de rua ("street") em Tóquio e voltará a fazê-lo em Paris, tornou-se um herói popular no Brasil depois de o seu pai ter vendido o carro da família para comprar bilhetes de avião para uma competição na Florida que o seu filho adolescente ganhou como um completo desconhecido.

Agora, com 33 anos, espera que ainda mais pessoas se sintam atraídas por este desporto após a segunda participação nos Jogos Olímpicos.

"O skate salvou-me a vida. Onde é que eu estaria se não andasse de skate? Pode salvar a vida de tantas pessoas", admitiu.

A noção de que o skate é o domínio exclusivo de homens e rapazes também está a desaparecer, com mulheres como Sakura Yosozumi, medalhista de ouro em Tóquio, do Japão, e Sky Brown, da Grã-Bretanha, entre os nomes mais reconhecidos do desporto.

"Quando vou aos parques de skate, há tantas raparigas pequenas. É espantoso vê-las a todas", disse a australiana Chloe Covell.

A especialista de rua de 14 anos foi atraída pela primeira vez para o desporto quando tinha seis anos e viu na televisão o ícone do skate norte-americano e favorito à medalha de ouro em Paris, Nyjah Huston.

"Depois disso, arranjei uma prancha e comecei a praticar montes de vezes. Adorei e fui ficando cada vez melhor. Agora, quando vou ao parque de skate local, as pessoas vêm ter comigo e pedem-me fotografias. É realmente espantoso", acrescentou.

Ryan Decenzo, um canadiano de 38 anos que se prepara para competir nos seus primeiros Jogos Olímpicos, disse que as qualidades que fazem um grande skater não são diferentes das que são necessárias em qualquer outro desporto.

"É preciso ter vontade, concentração, empenho e não ter medo de falhar ou cair. E tem de gostar o suficiente para que essas quedas não o façam desistir", apontou.