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Reportagem: Tracy Otto - Violência masculina, depois amor e agora os Jogos Paralímpicos

Tracy Otto
Tracy OttoAlex Slitz / Getty Images via AFP
Aos 23 anos, Tracy Otto foi abandonada para morrer por um ex-namorado ciumento. O seu corpo ficou destroçado e ela teve de "renascer como uma fénix". Com a ajuda do seu novo parceiro, recuperou o gosto pela vida e, cinco anos mais tarde, atingiu o mais alto nível no tiro com arco, competindo nos Jogos Paralímpicos de Paris.

"Tento pensar nisto como recriar a beleza a partir das cinzas", diz Tracy Otto, utilizando a metáfora da fénix, a ave mitológica que renasce continuamente das suas cinzas.

Há cinco anos, estava a dormir na sua casa na Florida com o namorado Ricky Riessle quando um ex-namorado ciumento entrou de rompante. Ele deu-lhe vários tiros e esfaqueou-a.

"A minha medula espinal foi cortada", lembra, deixando-a paralisada do peito para baixo. Riessle também ficou gravemente ferido, mas recuperou.

O agressor, que se entregou à polícia imediatamente a seguir, está atualmente a cumprir uma pena de 40 anos de prisão.

Ajudada 24 horas por dia por Riessle, decidiu agora "ser um modelo de positividade".

"Para mostrar ao mundo que, sejam quais forem as circunstâncias, podemos realmente fazer tudo aquilo a que nos propusermos", afirma.

Abandonada pela família

O seu segredo? Segundo ela, o amor e a sua relação com Riessle, acima de tudo.

"Temos uma ligação diferente de tudo o que já senti antes. Está para além da família. Para além de uma relação romântica. É verdadeiramente uma união da alma. Estamos realmente juntos 24 horas por dia, 7 dias por semana, porque é óbvio que preciso da ajuda dele", acrescenta a arqueira, que dispara as suas flechas através de um dispositivo controlado pela boca.

No sábado, até à sua eliminação nos quartos de final, o jovem esteve ao seu lado. Brincando, aconselhando e, finalmente, dizendo-lhe que estava orgulhoso dela quando foi derrotada.

Durante a sua convalescença em Chicago, a sua família - na qual diz ter tido uma "infância difícil" - abandonou-a. Foi Riessle que veio buscá-la ao centro de reabilitação.

"Lembro-me de ele me dizer que tudo ia correr bem e que íamos construir a melhor vida possível juntos. E olha onde estamos agora!", diz.

Forjar a mentalidade de uma desportista não foi fácil, mas ela conseguiu.

"Ainda tenho algumas recordações de coisas que aconteceram (durante o atentado)", admite a mulher que fez terapia e levou o seu tempo a lidar com o trauma.

"Conquistar o mundo!"

Reconstruir o seu físico atlético, no entanto, é mais difícil.

"O meu corpo não funciona como devia em várias áreas", explica. Para o desporto, é a termorregulação que constitui um problema: "Não ser capaz de suar ou aquecer a temperatura do meu corpo é um grande desafio que enfrento quando estou a disparar um arco".

Antes do seu ataque, ela tinha muitas vezes vontade de praticar tiro com arco. Mas outras prioridades tinham-na distraído.

"Um dia, enquanto conduzíamos pela autoestrada em março de 2021, disse a mim própria: 'Bem, tenho tanto tempo livre, porque não tentar algo novo?  Vamos a isso'", lembra.

"Escolher a sua própria família, aquela que lhe convém, ajuda a ter o estado de espírito certo para continuar a avançar", diz, explicando a sua nova visão da vida, que resume da seguinte forma: "Estabelecer objetivos e ter pessoas à nossa volta que nos amem, rodearmo-nos de positividade e espalhar a luz. Ser um modelo para as mulheres que passaram por coisas como eu e para as mulheres com deficiência".

Aos 28 anos, Tracy Otto não impõe limites a si própria.

"Só quero conquistar o mundo, seguir para Los Angeles em 2028 e depois para a Austrália em 2032".

Antes de repetir, como um mantra: "Só quero conquistar o mundo!"