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Seleção australiana condena “sofrimento” por detrás do Mundia-2022 no Catar

AFP, Pedro Fernandes
Seleção australiana foi a primeira a criticar publicamente as violações de direitos humanos registados no Catar
Seleção australiana foi a primeira a criticar publicamente as violações de direitos humanos registados no CatarSocceroos/Facebook
A seleção australiana de futebol tornou-se na primeira a criticar publicamente e de forma coletiva as violações de direitos humanos registados no Catar, na antecâmara do Mundial-2022, que decorre naquele país entre 20 de novembro e 18 de dezembro.

Num vídeo divulgado, 16 elementos dos socceroos explicam a sua posição perante o evento, que tem sido marcado pela controvérsia desde o anúncio da organização por parte do Catar, há 12 anos.

“Entendemos que a decisão da atribuição da organização do Mundial ao Catar resultou no sofrimento e prejuízo de inúmeros trabalhadores”, disse Jackson Irvine, médio do St. Pauli.

“Durante os dois últimos anos procurámos perceber e saber mais sobre a situação no Catar”, explicou Mathew Ryan, capitão e antigo guarda-redes do Brighton, que agora defende as cores do Copenhaga.

Antes de tomarem posição, os jogadores australianos falaram com várias organizações laborais e legais, como a Amnistia Internacional, e ainda que reconheçam as tentativas do Catar em melhorar as condições de trabalho dos migrantes, os socceroos acreditam que estas foram “inconsistentes”.

A Federação Australiana de futebol também criticou as políticas do Catar. “Constatamos o significante progresso e a reforma legislativa que ocorreu no Catar durante os últimos anos para reconhecer e proteger os direitos dos trabalhadores, e encorajamos a que seja dada continuidade a este caminho”, começa por referir a entidade, em comunicado.

“No entanto, também entendemos que o torneio acabou associado ao sofrimento por parte de trabalhadores migrantes e das respetivas famílias, e isso não pode ser ignorado”, acrescentaram os responsáveis, pedindo ao país árabe que adote uma postura mais branda no que respeita às relações entre pessoas do mesmo sexo, que atualmente são ilegais no Catar:

“Como o mais multicultural, diversificado e inclusivo desporto no nosso país, acreditamos que todos devem ser livres de se sentirem seguros sendo autênticos”.

Recorde-se que vários capitães de diferentes seleções, entre as quais a Inglaterra, a França e a Alemanha, vão utilizar braçadeiras com as cores do arco-íris e a mensagem “One Love” (“Um Amor” em tradução literal), no âmbito de uma campanha anti-descriminação que decorrerá durante a competição.

 

Craig Foster enalteceu “coragem por parte dos atletas”

O antigo capitão australiano, Craig Foster, elogiou a seleção do país pela mensagem difundida. “Eles estão, basicamente, a carregar o fardo da FIFA e de outras associações que defendem as suas próprias políticas de direitos humanos”, sublinhou.

“Há muita pressão no futebol para não se falar disto. Por isso, é preciso coragem por parte dos atletas”, acrescentou o antigo médio do Crystal Palace.

Nas últimas semanas, os atletas australianos parecem dispostos a misturar política e desporto, uma combinação por vezes volátil.

A seleção nacional de cricket desistiu de um acordo de patrocínio com a Alinta, depois de Pat Cummins se ter recusado a participar em anúncios da empresa de energia relacionados com preocupações sobre as alterações climáticas. Para além disso, a seleção de netball rejeitou utilizar camisolas patrocinadas por uma empresa mineira cujo fundador, já falecido, havia sugerido a esterilização de população indígena.

 

Entre as acusações de exploração e a “campanha sem precedentes” criticada pelo Catar

A preparação das infraestruturas necessárias para o Mundial-2022, no Catar, teve por base o grande influxo de trabalhadores migrantes que rumaram ao país. No projeto incluem-se, entre outras coisas, a construção de ruas, de um aeroporto, de uma rede ferroviária feita à medida e de sete novos estádios que vão acolher os vários encontros da prova, para o início da qual são esperados mais de um milhão de adeptos.

De acordo com a Amnistia Internacional, os trabalhadores de países como o Bangladesh, o Nepal ou a Índia receberam salários de baixo valor, sendo que a International Labour Organization aponta que 50 pessoas terão perdido a vida e centenas terão ficado feridas enquanto trabalhavam em projetos do Mundial-2022.

O Catar, por seu lado, foi refutando as acusações de exploração aos trabalhadores. A mais recente voz de descontentamento por parte do país foi a do emir Tamim bin Hamad Al-Thani, que criticou as “invenções e duplos padrões”, apontando a “uma campanha sem precedentes que nenhum país sede jamais enfrentou”.