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Superliga: "Decisão judicial quebra barreiras à imagem da Lei Bosman", diz advogado

LUSA
José Miguel Albuquerque, presidente da Associação Portuguesa de Direito Desportivo (APDD)
José Miguel Albuquerque, presidente da Associação Portuguesa de Direito Desportivo (APDD)Telles
A deliberação do Tribunal de Justiça da União Europeia (TJUE) em rejeitar a legitimidade da UEFA e da FIFA para impedirem novas competições de futebol quebra barreiras como a Lei Bosman, disse esta sexta-feira o advogado José Miguel Albuquerque.

Há um paralelismo evidente, na medida em que se confere mais algum poder aos clubes para criarem as suas competições e para, de forma autónoma, se reorganizarem. Nessa medida, podemos falar de uma Lei Bosman 2.0. A questão é se, na prática, irá ser assim. A maior parte dos clubes continua alinhada com a UEFA. Para já, isto não é o terramoto provocado pela Lei Bosman, que modificou por completo o futebol (ao abolir em 1995 as restrições sobre a utilização e transferência de atletas comunitários)”, admitiu à agência Lusa o recém-eleito presidente da Associação Portuguesa de Direito Desportivo (APDD).

Na quinta-feira, o TJUE considerou contrária à legislação europeia a decisão de FIFA e UEFA em proibirem atletas e clubes de participarem em provas privadas, notando que os dois organismos abusaram de uma “posição dominante” na sua ação contra a criação da controversa Superliga, que foi inviabilizada em 2021 e recuperada em fevereiro de 2023.

Quando uma empresa com uma posição dominante, como é o caso da UEFA e da FIFA, consegue determinar as condições sob as quais as empresas que sejam potencialmente concorrentes, como era o caso da Superliga, podem aceder ao mercado e à competição europeia, esse poder deve estar sujeito a critérios apertados para garantir que é exercido de maneira transparente, objetiva e proporcional, considerando que há um evidente risco de conflito de interesses”, indicou o associado sénior da sociedade de advogados Telles.

Esta decisão não é passível de recurso e será acolhida pelo tribunal espanhol que está a apreciar o caso, em resposta à denúncia apresentada em abril de 2022 pelas empresas gestoras daquele plano desportivo - A22 Sports Management e European Super League.

O tribunal dá nota de que as regras de FIFA e UEFA sobre a exploração dos direitos da comunicação social - muito importantes na Liga dos Campeões, já que se extraem daí as receitas - são suscetíveis de prejudicar os clubes, as operadoras nesses mercados e, em última análise, os consumidores e os telespetadores, porque os impedem de usufruir de competições novas e de potenciais novos desafios”, adicionou José Miguel Albuquerque.

Os espanhóis do Real Madrid e do FC Barcelona são os únicos ‘resistentes’ entre os 15 fundadores do projeto original - apesar de só terem sido revelados 12 -, que preconizava uma competição com 20 clubes, cenário contestado por diversos quadrantes, desde as estruturas da modalidade até aos governos nacionais, passando pelos próprios adeptos.

A UEFA ameaçou excluir Real Madrid e FC Barcelona da Liga dos Campeões e punir os atletas. Mostrou os pitons, mas não havia nada a justificar que o tivesse feito. Além disso, o TJUE considera como arbitrárias as regras de aprovação de quem joga, de controlo de entrada ou de existência de novas competições. À luz do direito europeu, são restrições injustificadas à liberdade de prestação de serviços”, vincou o novo presidente da APDD.

Em outubro de 2022, foi criada a companhia A22 Sports Management, promotora de um projeto readaptado em fevereiro de 2023, sob novos princípios e um modelo com 60 a 80 clubes, que fosse aberto, sem membros permanentes e alicerçado no mérito desportivo.

Na sequência da decisão proferida pelo TJUE, o diretor executivo da empresa, o alemão Bernd Reichart, difundiu a proposta de uma nova “competição europeia aberta”, com 64 clubes repartidos por três ligas masculinas e 32 por duas femininas, sob a promessa de existir a transmissão gratuita dos duelos através de uma plataforma de ‘streaming’ digital.

Enquanto se esperava um cartão vermelho, as federações levaram um cartão amarelo e serão obrigadas a repensar as suas organizações, mas não estão fora do jogo”, terminou José Miguel Albuquerque, mencionando uma resolução idêntica publicada na quinta-feira pelo mais alto órgão administrativo da UE face à União Internacional de Patinagem (ISU).