"Passam-me muitas coisas pela cabeça, antes, durante, agora. Li e ouvi muitas coisas que me magoaram, ofenderam. Mas o que guardei dentro de mim, foi o que escolhi. O bem. As pessoas que gostam de mim, a minha família, amigos, clube, Portugal! Sei que muita gente me quer bem e isso é tudo. Saber e sentir a quantidade de pessoas que está feliz por mim deixa-me muito feliz e grata. Obrigada. Podia dizer muito. Mas este momento é um momento de muita felicidade. Resultado de resiliência, resistência, perseverança. Não sou o que dizem de mim, não é no tempo que decidem para mim. Sou o que faço e é no tempo que eu decidir", escreveu Telma Monteiro nas redes sociais, dedicando a medalha conquistada "especialmente" a Ana Hormigo, a ex-selecionadora nacional de judo que foi demitida do cargo no passado mês de outubro, por e-mail.
Em Baku, recorde-se, a judoca portuguesa mais medalhada de sempre, 11.ª do ranking mundial, esteve isenta na primeira ronda e acabou por chegar à final depois de vencer a bósnia Andjela Samardzic (58.ª), a búlgara Ivelina Ilieva (33.ª) e a belga Mina Libeer (13.ª).
Na final, Telma Monteiro encontrou uma adversária, campeã mundial em 2019, a quem nunca tinha vencido nas duas ocasiões em que se defrontaram, em 2019 no Grand Slam de Ecaterimburgo e já este ano no Grand Slam de Antália. O combate entre as duas, nomes fortes da categoria intermédia, decidiu-se apenas no golden score, período de combate após os primeiros quatro minutos, que termina com o primeiro judoca a pontuar.
Telma Monteiro e Christa Deguchi (15.ª) arrastaram a decisão até aos 6.11 minutos, quando o árbitro advertiu a portuguesa pela terceira vez (hansoku make), conduzindo à sua eliminação e vitória da canadiana por ippon.
A medalha de Telma Monteiro segue-se a um período difícil, não só após a cirurgia, mas num momento em que a judoca tem contestado a direção da Federação Portuguesa de Judo, juntamente com mais cinco companheiros de seleção, acusando o presidente do organismo de opressão, num cenário que levou ainda ao afastamento da selecionadora Ana Hormigo, solidária com os atletas.