Mesmo entre os árbitros, há lendas: Bernardes despede-se do ténis após mais de 8.000 jogos
Sampras contra Agassi, Federer contra Nadal, Djokovic contra Federer, Nadal contra Djokovic... Carlos Bernardes também assistiu a estas rivalidades de estrelas durante a sua carreira de árbitro. Mas qual foi o seu percurso até se tornar um dos árbitros mais famosos?
"O meu primeiro contacto com o ténis foi em criança, no Brasil. Costumávamos entrar por cima da cerca num dos clubes de ténis para jogar. Depois, acabámos por nos inscrever como sócios. Desde então, estou no mundo do ténis", disse Bernardes durante o Torneio dos Campeões em Turim.
E o que o levou ao ténis em primeiro lugar? "Wimbledon. É mágico. Sentar-se no árbitro no Centre Court é algo único. A final de 2011 foi realmente especial", recorda, a propósito da vitória de Djokovic sobre Nadal, após a qual o recordista sérvio se tornou número um do mundo pela primeira vez.
Em 1984, começou a treinar tenistas talentosos e, pouco depois, foi juiz de linha na Taça Billie Jean King em São Paulo, Brasil. Foi treinador e juiz de linha durante vários anos, mas em 1992 tornou-se árbitro no ATP Tour.
"Comecei com torneios na América do Sul e depois consegui um emprego nos Estados Unidos. Lembro-me de um dos meus primeiros eventos em San Jose, em 1996. Sampras, Agassi e Chang jogaram nesse torneio. Sampras era o número um do mundo. Foi inacreditável. Passei de jogador de ténis nas ruas do Brasil a árbitro de um jogo entre Sampras e Agassi".
São 29 os números um do mundo na história e Bernardes já teve a honra de apitar partidas de 24 deles, de Mats Wilander ao atual, Jannik Sinner. E, claro, gosta de recordar aquilo a que chama a era especial de Nadal, Federer e Djokovic, bem como os jogos de Murray, Del Potro e Wawrinka. "Acho que alguns dos meus jogos mais longos foram com o Murray. Jogámos talvez durante quatro horas e ele continuava a dar tudo por tudo".
Suspensão de Nadal
Bernardes teve de lidar com inúmeros incidentes controversos durante a sua carreira, tendo mesmo sido banido por uma das maiores lendas do ténis. Nadal, que disputou o seu primeiro jogo no circuito ATP em Maiorca, em 2002, e que contou com a presença de Bernardes, teve vários desentendimentos com o brasileiro.
O espanhol chegou mesmo a usar o direito que os dirigentes do ténis têm de colocar um árbitro na lista negra. Era Bernardes depois do incidente no Rio de Janeiro 2015. Nadal vestiu uns calções ao contrário e quis mudar de roupa no estádio. No entanto, Bernardes não permitiu que ele saísse do campo, pelo que Nadal teve de se cobrir com uma toalha e ajustar as suas roupas no campo.
"Para mim, pessoalmente, foi uma falta de respeito. Não estou a falar de uma advertência por ter ultrapassado o tempo, eu compreendo isso. Mas eu tinha os calções ao contrário e não acho que seja correto ter de ajustar a roupa à frente de toda a gente no court", indignou-se Nadal. "Respeito-o, ele é um grande árbitro e uma grande pessoa. Mas acho que quando há problemas, é melhor para ambas as partes se não nos encontrarmos nos courts durante algum tempo".
Bernardes já foi alvo de inúmeras críticas, pois até os árbitros cometem erros. E, tal como acontece em muitas profissões, o que se vê é sobretudo o negativo. Bernardes arbitrou mais de oito mil jogos na sua carreira, pelo que o espaço para as críticas era quase ilimitado.
Esta semana, Bernardes vai despedir-se da sua carreira de árbitro na final da Taça Davis, em Málaga, Espanha. Para alguns, pode ser icónico que Nadal termine a sua carreira no mesmo evento.